Folha de S. Paulo


Quem trabalha acaba sustentando muito mais que a própria família

Pense em uma família de classe média bem comum no Brasil: um casal com dois filhos pequenos. Neste cenário, os pais trabalham para garantir o sustento dos filhos, que ainda vão levar uns bons anos para chegar à vida adulta e para contribuir com a renda da família.

Pensando assim, de um modo isolado, a conta fecha e a família cresce feliz. Por outro lado, se tentarmos levar essa analogia para examinar o quadro do mercado de trabalho no país, de uma forma geral, teríamos uma família bem mais complexa e com dificuldades de manter as contas no azul no fim do mês.

O ponto é que temos uma fatia pequena da população efetivamente trabalhando e produzindo riqueza para o país, em detrimento de uma outra fatia bem maior que não trabalha e é sustentada pela fatia economicamente ativa.

Os dados mais atualizados do IBGE sobre população em idade ativa mostram a complexidade desta questão. De um modo geral, o país tem uma população de 204,5 milhões de pessoas, sendo que 164,1 milhões estão em idade ativa (mundialmente considerada a partir dos 14 anos).

Neste recorte, no entanto, temos 63,6 milhões de pessoas que não trabalham e nem procuram emprego, ou seja, 38% do total. Se a conta se encerrasse aqui, teríamos uma relação razoavelmente equilibrada: 62% trabalhando, ante 38% sem trabalho algum.

No entanto, esses dados ainda não são completamente precisos, tendo em vista que a legislação brasileira não permite o trabalho de adolescentes, salvo na condição de aprendizes. Ou seja, ainda que a população de 14 a 17 anos seja considerada dentro da faixa de População em Idade Ativa, na prática os jovens dentro dessa classificação pouco contribuem financeiramente.

Vale ainda lembrar que dos 60 anos para cima, a tendência é que as pessoas se aproximem da aposentadoria.

Levando em consideração essas variáveis, tiramos da População em Idade Ativa (164,1 milhões) aquelas pessoas abaixo dos 18 anos e acima dos 60. Ou seja, temos ai 121,1 milhões de brasileiros. Deste total, 30 milhões estão sem trabalhar ou sem procurar emprego.

No fim das contas, o país tem 204,5 milhões de pessoas, mas a principal massa contribuinte dentro da força de trabalho é composta por 91 milhões de pessoas, o que corresponde a 44% da população total. Vale ressaltar que consideramos dentro desta fatia ativa cerca de 7,4 milhões de desempregados, tendo em vista que são pessoas em busca de emprego e que, eventualmente, voltam a trabalhar.

O percentual não chega a representar sequer metade da população. Não é somente o cenário de crise econômica, com o crescimento do desemprego que preocupa, a distribuição de pessoas no país entre aquelas que trabalham —ou estão em busca de emprego— em relação às que não trabalham e nem estão em busca disso é muito desigual.

O crescimento do desemprego vem como reflexo da crise e pode ser revertido quando essa fase de recessão acabar. Muito mais complexo que isso, no entanto, é encontrar a solução para um problema estrutural como essa divisão da nossa população.


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