Folha de S. Paulo


Mundo Econômico

PANORAMA MUNDO

Os principais índices acionários americanos fecharam em alta modesta na última sexta-feira (14) e apresentaram elevada volatilidade em resposta à desvalorização do yuan e ao possível aumento da taxa de juros básica nos Estados Unidos. O índice Dow Jones subiu 0,40%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq Composite fecharam em alta de 0,39% e 0,29%, respectivamente.

A expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) eleve a taxa de juros nos próximos meses —com muitos investidores acreditando que isso ocorrerá na próxima reunião do Fed, em setembro— vem sendo posta em xeque pelos sinais crescentes de agitação financeira e pela inesperada desvalorização da moeda chinesa.

O atual cenário de perspectiva de desaceleração do crescimento da China e dos preços de commodities, que afeta a economia global, vem dificultando o aumento da inflação nos EUA e pode intensificar a volatilidade dos mercados, fazendo com que a decisão do aumento da taxa de juros seja adiada.

A depreciação de 1,9% da moeda chinesa na semana passada, induzida pelo banco central chinês após dados negativos de balança comercial, é uma medida que torna as exportações chinesas mais baratas em detrimento de exportadores rivais, que perdem competitividade para a indústria chinesa, atualmente enfraquecida.

Em conjunto com a queda de crescimento na China, outro fator que afeta a economia global e os países exportadores de commodities, como o Brasil, é a queda prolongada dos preços das commodities, que caíram ainda mais na semana passada, após a desvalorização do yuan.

Essa depreciação sinaliza que as condições econômicas globais estão frágeis, criando mais pressão para baixo nos preços dos mercados de commodities. Além disso, a pressão deflacionária se deve principalmente a especulações de que a demanda pelos insumos pode ficar ainda mais fraca, aumentando o excesso de produção.

Para o ministro das finanças da Colômbia, Mauricio Cárdenas, o colapso do preço das commodities é uma mudança permanente que, segundo ele, já vinha sendo antecipada pelo país, que ainda prevê crescimento de 3% nesse ano. Contudo, estima-se que a queda de US$ 1 no preço do petróleo diminui a receita do país em cerca de US$ 200 milhões.

Já em países vizinhos exportadores de commodities, a queda não era esperada e a Venezuela, por exemplo, prevê que a economia encolherá 7% ainda esse ano.

Apesar de a zona do euro apresentar seu melhor ano desde 2010, a recuperação da região ainda está muito frágil, mesmo após a depreciação do euro e a recompra massiva de títulos pelo BCE (Banco Central Europeu) em março para estimular o crescimento e aumentar a inflação.

O PIB (Produto Interno Bruto) da região cresceu apenas 0,3% no segundo trimestre —com a economia francesa estagnada e Alemanha, Itália e Holanda apresentando crescimento mais baixo. O resultado ficou abaixo do 0,4% esperado pelos analistas.

O desemprego ainda se situa na casa dos dois dígitos e dados da Alemanha indicam que as empresas na região ainda estão relutantes a aumentar os investimentos, embora a taxa de juros tenha atingido valores mínimos após a crise de 2008.

Nessa semana, será divulgado o IPC anual do Reino Unido e o IPC-núcleo mensal e anual dos EUA, além do PMI Industrial de agosto da China e da Alemanha.

PANORAMA BRASIL

A Bovespa fechou em queda de 2,2% na semana passada após a desvalorização do yuan e a decisão da agência Moody`s de cortar o rating soberano do Brasil. Com isso, a perda acumulada de agosto é de 6,6% e a do ano se situa em 5%.

Já o dólar comercial encerrou a semana em queda acumulada de 0,75%, fechando a R$ 3,48. Para o superintendente de Tesouraria do Banco Máxima, Alberto Oliveira, se a melhora do quadro político se consolidar e não houver surpresa negativa no campo externo, poderá ocorrer um novo movimento de valorização do real.

Para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a indústria deverá se beneficiar do novo momento da economia brasileira dos próximos anos —reforma do PIS e da Cofins e desvalorização do câmbio.

No segundo trimestre, a fatia da produção brasileira destinada ao mercado externo atingiu 19,2% segundo avaliação da CNI (Confederação Nacional da Indústria). O resultado aponta a recuperação da rentabilidade das exportações.

Contudo, a indústria paulista —bom indicador para o setor industrial brasileiro— teve queda do nível de emprego de 1,07% em julho em relação a junho. Assim, em julho foram fechados 30.500 empregos e o acumulado no ano já bate em 92,5 mil postos de trabalho fechados. A deterioração econômica e as turbulências políticas são as principais influências negativas para a indústria.

Com relação ao nível dos preços, o ministro afirmou que, após a forte alta do IPCA neste ano, as expectativas de inflação vão convergir para o centro da meta (4,5%). Para 2016, as projeções do boletim Focus são de que a inflação ficará entre 5% e 5,5%, apenas convergindo para 4,5% em 2017.

Nessa semana será divulgada a taxa de desemprego de julho e a confiança do consumidor pela Fundação Getulio Vargas.

Post em parceria com João Luiz de Cerqueira Cesar, graduando em economia pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Junior de Economia


Endereço da página: