Folha de S. Paulo


Errar é parte da busca pela verdade

Muitos analistas de política americana vêm condenando o governo de Barack Obama, que completou um ano, a um prematuro e retumbante fracasso. Este não é o espaço para discutir a procedência de tais vaticínios.
Mas Obama merece crédito ao menos por ter adotado atitude rara em pessoas públicas, políticos e jornalistas em particular: a capacidade de admitir seus próprios erros.

Em pelo menos três ocasiões, duas delas em entrevistas a veículos de comunicação, disse, com poucos rodeios, que ou ele ou sua administração (por cujo comportamento assume responsabilidade final, outro comportamento cada vez mais incomum entre governantes) cometeram equívocos.

Para efeito de comparação com um de seus predecessores, Richard Nixon só aceitou em público inúmeros e trágicos desacertos anos após ter deixado o poder, e por conta do magnífico trabalho de um jornalista, registrado no filme indicado ao fim deste texto.

Nestes quase dois anos no exercício da função de ombudsman, observo a enorme relutância por parte de muitos colegas em aceitar que erraram, mesmo quando é impossível negá-lo. A Folha historicamente tem sido o veículo de renome brasileiro mais aberto a publicar correções. A seção "Erramos", em sua forma atual, completa 19 anos no próximo dia 17.

Uma tese de mestrado em comunicação foi escrita sobre ela em 1998 por Mirna Feitoza Pereira. A conclusão é que "o erro faz parte da busca pela verdade. É só a partir de sua descoberta que é possível elaborar uma representação mais fiel e completa do objeto. Verdade e erro constituem-se em representações complementares, capazes de diminuir a fenda que há entre a realidade e a sua representação".

Esta é uma das razões por que é tão importante reconhecer os erros num jornal. Proceder assim diminui a possibilidade de repeti-los, ajuda-o a aperfeiçoar o trabalho futuro, oferece ao leitor uma visão mais aproximada dos fatos relatados e da maneira como seu relato é construído.

Além disso, como ressalta o "Manual da Redação", essa disposição de reforçar seus próprios erros revela o esforço institucional de ser transparente com o leitor, essencial para o estabelecimento de vínculo de confiança.
É uma pena que com frequência a determinação do "Manual" ("A Folha retifica, sem eufemismos, os erros que comete; a retificação deve ser publicada assim que a falha for constatada") não seja cumprida.

As atribulações do cotidiano de produção do jornal diário, muito bem descritas no livro abaixo recomendado, explicam não só por que tantos erros ocorrem, mas também por que as correções às vezes atrasam. Mas não justificam nem uma coisa nem outra.

É indispensável empenho cada vez maior para diminuir o número de erros e para registrá-los para o leitor de modo límpido e rápido quando não forem evitados.

PARA LER

"Introdução ao Jornalismo - Como Fazer Jornal Todos os Dias", de Luiz Caversan, Saraiva, 2009 (a partir de R$ 31,20)

PARA VER

"Frost/Nixon", de Ron Howard, 2008 (a partir de R$ 35,91)


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