Folha de S. Paulo


'Vão pintar o cabelo de azul'

Um dos melhores jornais americanos, "The Christian Science Monitor", anunciou há três semanas que vai deixar de publicar a partir de abril de 2009 sua edição diária impressa, que completa cem anos este mês.

Em vez dela, o "Monitor" enviará aos assinantes todos os dias pela internet uma versão em PDF e manterá na web um site com desenho arrojado, novos conteúdos e atualização permanente.

Para os saudosistas do papel, terá uma revista impressa semanal, distribuída aos domingos, com reportagens interpretativas, análises, opiniões, boas fotos, tudo que ele oferece atualmente.

A notícia foi uma das que causaram mais impacto entre os aficionados do jornalismo impresso diário em todo o mundo. O "Monitor" é sinônimo de qualidade há muito tempo. Sua circulação caiu do auge de 220 mil exemplares nos anos 1970 para os atuais 50 mil, e a tendência era continuar a baixar.

Embora seus diretores tenham dito que eles estavam antecipando o que todos os diários terão de fazer nos próximos cinco anos, a situação do "Monitor" era muito peculiar, e não necessariamente indica uma tendência.

Ao contrário dos grandes diários, sua receita deriva quase toda da venda de assinaturas, não da publicidade. Deixar o papel diminui muito seus custos e praticamente não afeta a receita.

Veículos de maior circulação, como "The New York Times" e "The Wall Street Journal" dependem dos anúncios, e estes ainda são vendidos em muito mais escala no papel do que na internet.

Aliás, embora em todo o mundo aumente a audiência dos jornais na tela, seu faturamento publicitário tem crescido muito aquém da expectativa, e eles estão longe de ser o sucesso econômico que se previa há apenas alguns anos.

De qualquer maneira, não há dúvida de que o futuro da atividade passa pela realidade da internet. Pesquisa divulgada em maio pelo instituto Zogby e feita entre 704 executivos de primeiro escalão da indústria no mundo revela que 86% deles acreditam que a Redação dos veículos impressos tem que se integrar mais com a sua versão eletrônica e dois terços acham que em dez anos a maneira mais comum de consumir jornalismo será via on-line.

"Os editores sabem a solução: inovar, integrar. Ou perecer", resumiu o diretor do instituto, John Zogby.

Diante disso, como anda a Folha neste capítulo? Muito mal, segundo leitores que têm escrito periodicamente ao ombudsman. Jaime C. Silveira disse que cancelou sua assinatura do UOL, que mantinha só para ler a Folha, cansado de esperar por uma edição confortável de ler na tela, como a de diversos diários no Brasil e em outros países.

Gustavo Camargo, após conhecer edições eletrônicas de concorrentes deste jornal, pediu: "Avisa o pessoal que estão ficando velhos, fora de moda. Daqui a pouco terão de pintar o cabelo de azul".

Ana Busch, responsável pela edição eletrônica da Folha e pelo jornal em tempo real Folha Online, diz que a primeira deve ser reformulada: "Temos um projeto para implantar uma versão com reprodução fiel das páginas do jornal, que seja prática, de fácil navegação e principalmente leve, ou seja, que possa ser consultada a partir de qualquer navegador ou tipo e velocidade de conexão. Esse é um grande desafio, mas estamos trabalhando para vencê-lo em breve". Não disse quando. O jeito é esperar.


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