Folha de S. Paulo


A opinião pública existe, sim

Três dos melhores trabalhos publicados por este jornal em 2008 se devem em grande parte ao Datafolha, que comemora o jubileu de prata.

A série DNA paulistano e os cadernos especiais sobre jovens e racismo são exemplos de debate aprofundado de temas de interesse público a partir de dados empíricos relevantes e confiáveis.

Quando foi criado, em 1983, o tipo de metodologia usado pelo Datafolha (chamado "survey", pesquisa quantitativa baseada em questionários fechados) era objeto de grande debate na comunidade acadêmica do país.

Eram os tempos de chegada à democracia, e o espírito crítico andava aguçadíssimo. O bordão de Pierre Bourdieu ("a opinião pública não existe") para denunciar esses trabalhos estava em voga.

De fato, a pesquisa quantitativa não consegue dar conta de problemas sociais mais complexos. Tanto é verdade, que o próprio Datafolha desenvolve muitos trabalhos em que utiliza métodos qualitativos quando necessário.

O exagero com que se utilizavam as pesquisas de opinião fornecia munição aos inimigos. E a Folha ajudava. Encantada com o material que o Datafolha lhe fornecia, a Redação extrapolava na sua utilização.

Caio Túlio Costa, secretário de Redação na época e primeiro ombudsman deste jornal, chega a dizer que ele virou "uma espécie de refém das pesquisas". É de Costa a blague de que se o mundo acabasse a manchete da Folha seria: "Mundo acaba; 50% discordam".

Mas o nível de qualidade do trabalho do Datafolha é tão alto, que não há como discutir sua competência. Ele já produziu 3.445 pesquisas de opinião e de intenção de voto publicadas pelo jornal, e o índice de erro é irrisório.

Graças ao trabalho de sociólogos como Vilmar Faria, Reginaldo Prandi, Antônio Flávio Pierucci, Mara Kotscho, Antônio Manuel Teixeira Mendes, Gustavo Venturi e Mauro Paulino, o atual diretor, o instituto desenvolveu um modelo próprio, que se tem mostrado muito eficiente.

Além de ter acertado em cheio as intenções de voto em quase todas as eleições pós-regime militar, revolucionou a análise estatística de jogos de futebol, criou modo objetivo de avaliar salas de cinema e medir multidões e faz pesquisas de mercado muito requisitadas por grandes empresas. Em momentos de pico, chega a contar com o trabalho de 1.300 pessoas. Só uma empresa grande e forte é capaz de sustentar isso.

No Brasil, não há outro grupo de comunicação com seu próprio instituto de pesquisas. No mundo, são raros. O primeiro precursor foi uma revista semanal americana, "Literary Digest", que circulou entre 1890 e 1938.

Sua experiência com pesquisa naufragou na eleição de 1936, quando previu que o candidato do Partido Republicano, Alfred Landon, derrotaria "de lavada" o presidente Franklin Roosevelt, que se reelegeu com 60,8% dos votos. Com o Datafolha, isso seria impossível.


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