Folha de S. Paulo


Por que Silvio reboca unanimidade nas críticas

Nenhuma candidatura à Presidência da República foi tão bombardeada pela imprensa brasileira quanto a de Silvio Santos. Os quatro grandes jornais do país fizeram questão de publicar editoriais nas suas edições do Dia de Todos os Santos. As duas maiores revistas semanais, "Veja" e "IstoÉ/Senhor" dedicam suas capas desta semana para o empresário e animador de tevê. Todos ressalvam que Silvio tem o direito legal de postular a Presidência, mas atacam a maneira como foi efetivada a candidatura.

O que mais se criticou foi o oportunismo deste lançamento no ocaso da campanha para o primeiro turno. "Silvio vira candidato a 15 dias da eleição", foi a manchete da Folha. Ela registrou em editorial que o fato confirmava o "estágio rudimentar em que se encontram as instituições no Brasil".

Para o "Jornal do Brasil", em texto de primeira página, o eleitorado que esperou quase 30 anos para votar está agora, "a 15 dias das urnas, diante de um adversário que esperou, por malícia, um mês e meio de campanha para se apresentar". "O Globo" foi mais adiante e lançou, também em primeira página, um pedido à Justiça Eleitoral para que não aceite a candidatura, detenha a "pretensão eleitoral do arrivista", uma "afronta à consciência cívica da nação".

Em "O Estado de S.Paulo" e no "Jornal da Tarde" as reações também foram contundentes. "Piada contra a nação", disse em título de editorial "O Estado". Nele, o matutino ironiza o fato de Silvio ser um vendedor talentoso e questiona se por isso teria "direito de comprar uma legenda partidária para atender a seu sonho pessoal". No "Jornal da Tarde" um jogo de títulos em letras garrafais dava a medida da recepção da candidatura: a frase "Estamos no fim da picada" (com ponto final) estava em cima de outra: "O homem do Baú pode ser presidente".

"IstoÉ/Senhor" apresenta Silvio Santos na sua capa com bigode de Sarney. A reportagem principal mostra como essa candidatura foi articulada pelo Planalto e diz que pode ser uma "aventura arriscada para quem a criou". Em editorial, a revista afirma que Silvio Santos tem o direito a uma candidatura presidencial e a uma carreira política, mesmo não sendo do ramo. Mas acha espantoso, imoral e anti-demorcrático -ainda que legal-que isto possa acontecer a duas semanas do pleito. Define-a como mais um estrago provocado por Sarney.

"Veja" faz uma reportagem de capa tão opinativa quanto a maioria de seus textos, recheados de exemplos de bom senso. Diz que o lançamento dessa candidatura não contribui para a melhoria da eleição, vem na última hora, é fruto de um tráfico de legendas, nasce da esperteza, nasce de uma jogada. Afirma que Silvio não participou da história da eleição e mostra também as manobras de Sarney para emplacar o candidato. Diz até que Sarney mentiu, por duas vezes.

As revistas apuram com mais rigor dos que os jornais a articulação palaciana que está na base desta operação. Mas "Veja" vai além e insinua algo fundamental na repercussão desmedida deste lançamento. Acha que muito da gritaria é preconceito contra o animador. Preconceito por ele ter sido camelô, animar programas de auditórios. Pode-se acrescentar também que muito desse preconceito também vem do fato de Silvio Santos ser um neófito na política, ou o "Presidente do não sei como", conforme título de primeira página de "O Globo" na sexta-feira.

A observação sobre o preconceito coloca o dedo na ferida. Não resta dúvida de que as regras atuais do jogo são esdrúxulas ao ponto de permitirem terremotos como o da entrada de Silvio Santos no páreo. Mas, ao mesmo tempo, não se pode afirmar que a reação seria a mesma -ou que a intensidade das críticas contra as regras do jogo seria idêntica-se o nome de última hora fosse outro.

Embora a grande imprensa diga e reafirme -a própria Folha escreveu que não a move "nenhum tipo de preconceito pessoal, de apriorismo ou presunção elitista"-surge a pergunta crucial: será que o lançamento extemporâneo da candidatura de alguém como o empresário Antonio Ermírio de Moraes -ou mesmo o decrépito Jânio Quadros-provocaria reações contrárias tão virulentas como as que estão acontecendo contra Silvio Santos? Tudo indica que não.

RETRANCA

- Um capítulo importante na história da candidatura Silvio Santos será o da "guerra" dos noticiários na televisão. A Rede Globo tem mostrado boa disposição em bombardear o candidato e o SBT, por enquanto, pisa em ovos. Mas a primeira baixa já ocorreu. O jornalista Ricardo Noblat pedia licença da função de comentarista político do SBT em Brasília. Achou incompatíveis suas funções de analista do "Jornal do Brasil" e da rede de Silvio Santos no momento em que Silvio se lança candidato. Em São Paulo, o âncora Boris Casoy disse a este ombudsman que "não tem razões para sair porque a independência do telejornal está mantida". Segundo ele, a direção do SBT "está cumprindo rigorosamente os compromissos assumidos".

- O caso comentado nesta coluna na semana passada -sobre a notícia dada pelo jornal "O Globo" de que a política carioca tinha achado uma foto de Brizola junto ao traficante Eureka-continua repercutindo. Dácio Malta, editor de "O Dia", telefonou para dizer que a informação sobre a foto não chegou ao jornal "O Globo" via "O Dia", que cedeu somente a sua foto para a publicação. Malta mandou também cópia do material publicado pelo seu jornal. Nele está claro que "O Dia" incluiu na sua primeira página a menção de que o homem abraçado por Brizola tinha sido identificado também como José Roque, presidente de uma associação de moradores.

- O jornalista Merval Pereira, da direção de "O Globo", também telefonou para se esclarecer que o jornal não se baseou apenas numa fonte para afirmar que José Roque seria o traficante Eureka. Além do detetive-inspetor Horácio Reis (que negou tudo depois), "O Globo" escudou-se também na afirmativa do sargento Luís Carlos Rodrigues. "Uma fonte da Polícia Civil e outra da Polícia Militar", diz Merval. Ele mandou um fac-símile da reportagem que "O Globo" deu no segundo clichê, onde aparece a informação de que o sargento também dissera que o homem da foto era o traficante Eureka.

- O fato de "O Globo" ter se baseado em duas -e não em uma única fonte policial-não desculpa o jornal pelo erro jornalístico contra José Roque e Leonel Brizola. Fez bem "O Dia" em tentar descobrir quem era na realidade o homem que Brizola abraçava e fora apontado pela polícia como o traficante Eureka. Ao contrário de "O Globo", o jornal "O Dia" teve tempo de descobrir sua identidade e de publicar a informação de que o rapaz da foto poderia ser o José Roque. E acertou.

- Boa nova: a Cetesb (Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental) acaba de criar em seus quadros a função do ombudsman. Depois do dia 10 de novembro, a população paulista vai ter um par de orelhas disposto a ouvir queixas e sugestões sobre a poluição do ar, dos rios e do solo. As orelhas são do engenheiro industrial mecânico Aristodemo Rossi Neto, 47 anos, seis dos quais na própria Cetesb, onde chefiou a regional de Ribeirão Preto. Ele vai estar baseado na cidade de São Paulo, mas deverá viajar constantemente pelos 22 escritórios da companhia do Estado. Vai recolher impressões e reclamações da população e das autoridades locais. Conforme revela o diretor de controle de poluição da Cetesb, Eduardo San Marin, a empresa se inspirou na função do ombudsman para criar o seu.

- Nas últimas duas semanas o ombudsman da Folha recebeu 213 telefonemas, atendeu pessoalmente oito pessoas e respondeu a 138 cartas. Em geral, os telefonemas foram de simpatizantes das candidaturas de Lula, Covas, Collor e Afif. Reclamam que a Folha os persegue. O ombudsman recebe os leitores na sua sala com o maior prazer e atende a todos pelo telefone. Mas é preciso que as visitas sejam marcadas com antecedência e que os telefonemas sejam feitos de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h. Em tempo: o ombudsman foi contratado para ouvir e encaminhar reclamações. Ele não é consultório sentimental, não é advogado de pequenas causas e não tem como resolver casos pessoais como o de desaparecimento de malas, vítimas de estelionatários ou de despejo. Mas ele pode intermediar todo tipo de queixas e sugestões que você tenha em relação à Folha.


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