BRASÍLIA - Às vésperas de embarcar para a cobertura da Segunda Guerra, o jornalista Joel Silveira foi chamado à sala de Assis Chateaubriand. O chefão dos Diários Associados queria lhe fazer um último pedido: "Vá para a guerra, seu Silveira, mas por favor não me morra! Repórter não é para morrer. Repórter é para mandar notícias!".
Silveira não morreu. Apelidado de "víbora" por seu estilo mordaz, acompanhou a saga dos pracinhas e voltou a tempo de assistir à queda do Estado Novo. Ele ainda seria testemunha de outras reviravoltas da história: o suicídio de Getúlio, a renúncia de Jânio, o golpe militar de 1964.
Suas reportagens viraram livros porque, além de registrar os fatos, revelavam a alma dos personagens. O relato de uma viagem com Jânio, pouco antes da posse, mostra por que seu governo não poderia dar certo. O presidente eleito misturava uísque e cerveja, dizia esquisitices e saía de cena misteriosamente.
O jornalista também esteve no apartamento de João Goulart, onde extraiu uma confissão: depois de receber a notícia da morte de Getúlio, o futuro presidente caiu num "pranto solto" na solidão do elevador.
Com o velho caudilho, o repórter teve menos sorte. Conseguiu ser recebido no Catete na crise de 1954, mas viu Getúlio se indignar e bater a porta quando sacou uma lista de perguntas. A maioria dos jornalistas esconderia o fiasco. Silveira produziu um perfil alentado a partir do "primeiro, único e desastrado" encontro que não rendeu entrevista.
Antes de conviver com a fauna da política, o sergipano ficou famoso pela reportagem "Grã-finos em São Paulo", publicada pela "Diretrizes" em 1943. Com ironia ferina, o texto descreve o luxo, a futilidade e o deslumbramento da "haute gomme" paulistana da época. Escrito há mais de sete décadas, ainda parece atual.
Silveira morreu há dez anos. Os olhos da víbora não chegaram a ver a cidade administrada pelo dono da revista "Caviar Lifestyle".