Folha de S. Paulo


O lobo e o cordeiro

Marcos Oliveira/Agência Senado
A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) realiza reunião deliberativa com oito itens na pauta. Entre os quais, PLS 36/2011, que dispõe sobre o seguro-desemprego em situação de calamidade natural e o PLS 74/2011, que inclui o artesão como segurado especial da Previdência Social. Senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) em pronunciamento. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado.
O candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro e bispo da Igreja Universal, Marcelo Crivella (PRB)

BRASÍLIA - A Igreja Católica prega "doutrinas demoníacas". As religiões orientais abrigam "espíritos imundos". As tradições africanas permitem "toda sorte de comportamento imoral, até mesmo com crianças". A mulher cristã que se casa com um hindu está sujeita a ser "possuída por espíritos".

A coleção de insultos e preconceitos está no livro "Evangelizando a África". O autor é o senador Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal e líder na corrida à Prefeitura do Rio.

A duas semanas da eleição, o candidato do PRB passou a ser confrontado com os disparates que escreveu. Em outras passagens do livro, reproduzidas no domingo (16) pelo jornal "O Globo", ele definiu a homossexualidade como uma "conduta maligna" e um "terrível mal".

Procurado, Crivella disse ter escrito numa época em que era "um jovem missionário, cujo zelo imaturo da fé levou a cometer esse lamentável erro". Quando suas ideias foram publicadas, ele já tinha 42 anos.

Na mesma nota, o senador disse ser um "intransigente defensor da tolerância, da igualdade e da dignidade da pessoa humana". "Amo os católicos, espíritas, evangélicos e a todos", afirmou, após citar um trecho do Evangelho de Lucas.

O carioca que conhece a Bíblia pode ter se lembrado de outra passagem, de Mateus, que pede cuidado com os "falsos profetas" e os descreve como lobos em pele de cordeiro.

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O candidato do PSOL, Marcelo Freixo, também está sendo obrigado a explicar declarações do passado. A propaganda de Crivella resgatou um vídeo em que ele evita criticar a violência dos black blocs.

"Vários movimentos têm vários métodos distintos. Não sou juiz para ficar avaliando os métodos", disse, nos protestos de 2013. Após a morte do cinegrafista Santiago Andrade, o deputado mudou de tom. "Sou totalmente contra a violência, como método e como princípio", escreveu.


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