Folha de S. Paulo


O dia do Cunha

BRASÍLIA - Enquanto o governo tira dos trabalhadores, o presidente da Câmara dá aos deputados. Este é o resumo das medidas anunciadas por Eduardo Cunha nesta quarta (25). O pacote custará R$ 150,3 milhões por ano, em meio a uma grave crise nas contas públicas.

Em uma só tacada, o peemedebista aumentou as verbas de gabinete, a remuneração de assessores e o auxílio-moradia dos colegas que não ocupam apartamentos funcionais. Com salários de R$ 33,7 mil, eles terão mais R$ 4.200 para alugar imóveis em Brasília, onde a maioria passa apenas duas noites por semana.

O presidente da Câmara ainda autorizou os deputados a usar dinheiro público para emitir passagens aéreas em nome de suas mulheres ou maridos. A prática havia sido proibida em 2009, após o escândalo da farra das passagens. Agora a farra está de volta, sob a batuta de Cunha.

O peemedebista disse que não vai elevar despesas. Prometeu tirar verbas de funções administrativas, sem dar maiores detalhes. "Não vai custar um centavo", afirmou.

É um discurso capenga, como diria Renan Calheiros sobre a coalizão governista. Se considera que o Orçamento da Câmara inclui gastos supérfluos, Cunha deveria cortá-los e devolver o dinheiro ao Tesouro. Em vez disso, vai remanejar a verba para aumentar as mordomias dos colegas.

O pacote foi referendado pela Mesa Diretora, um bunker de aliados do peemedebista. O deputado Júlio Delgado, do PSB mineiro, alerta que a medida pode ser um tiro no pé.

"Esse aumento de gastos vai nos afastar ainda mais da sociedade. Hoje as ruas estão protestando contra o governo. Amanhã, podem se voltar contra o Congresso", prevê.

Cunha anunciou que as benesses entrarão em vigor em 1º de abril, conhecido como o Dia da Mentira. Não poderia haver data mais adequada. Em um jantar na segunda-feira, ele havia prometido fazer o possível para ajudar o governo a reduzir despesas e aprovar o ajuste fiscal.


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