Folha de S. Paulo


Presente de Natal

BRASÍLIA - O deputado Luiz Argôlo (SD-BA) não foi um bom menino, mas ganhou um presente antecipado neste Natal. O bom velhinho foi o amigo Wladimir Costa (SD-PA), autor da manobra que o salvou ontem de ter o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar.

Às vésperas do recesso, Costa pediu vista da ação contra o colega de partido. Com o artifício, o caso não será mais votado nesta legislatura. Suas Excelências vão sair de férias e só voltam em fevereiro. Argôlo não terá mandato, mas ficará livre para disputar as próximas eleições.

Investigações da Polícia Federal revelaram que o deputado baiano mantinha uma relação mais que fraterna com Alberto Youssef, o doleiro que operava a engrenagem da corrupção na Petrobras. Os dois trocaram 1.411 torpedos de celular em sete meses, uma marca difícil de ser igualada por muitos casais adolescentes.

Os diálogos transcritos no inquérito trazem palavras carinhosas, mas tratam de temas bem terrenos, como licitações e depósitos em contas de parentes e assessores de Argôlo.

O responsável pelo caso no Conselho de Ética, Marcos Rogério (PDT-RO), escreveu que o deputado atuava "ora como cliente de Youssef, recebendo dinheiro para si próprio e outros beneficiários, ora como sócio, intermediando contatos dele com empresas e tendo suas operações financiadas pelo doleiro". As relações envolveram "tráfico de influência", "negócios e pagamentos ilícitos" e, "possivelmente, corrupção e lavagem de dinheiro", concluiu o relator.

Quem conhece os autos da Operação Lava Jato afirma que a desenvoltura de Argôlo faria corar o ex-petista André Vargas (sem partido-PR), cassado na semana passada por viajar em jatinho emprestado pelo doleiro. Apesar das provas, o deputado baiano foi tratado com mais leniência.

O presente natalino sugere que Papai Noel voltará a visitar o Congresso em 2015, quando outros parlamentares deverão ser investigados por participação no esquema de Youssef.


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