Folha de S. Paulo


Leca Meleca

Morena, alta, bonita e charmosa.

Desde pequenina era uma pintura, cabelo curto e negro, olhos de jabuticaba, jeito de sapeca, sorriso encantador. Mas muito, muito brava.

Mais alta que as coleguinhas da classe, procurava sempre se esconder por causa da timidez, para não aparecer demais. Ela sempre me pareceu mais artista, voltada para o abstrato, muito inteligente, viva e meiga ao extremo.

Viajar sozinha comigo, quando pequena, nem pensar. Duas vezes foi comigo até o aeroporto, mas recuou na hora de embarcar. Só quando cresceu me acompanhou em viagens de negócios.

Uma vez entrando no seu quarto enquanto dormia me vi nela. Voltei no tempo e a minha infância, uma sensação única e esquisita que jamais esquecerei.

Essa menina tímida e introvertida atingiu a adolescência e decidiu estudar no exterior. Pensei muito sobre o assunto. Eu tinha medo de deixá-la ir sozinha. Será que ela se daria bem? Será que superaria as dificuldades de morar fora de seu país?

Poucos anos se passaram, mas deu tudo certo. Ela se abriu naturalmente em sua vontade de conquistar o mundo. Venceu todas as dificuldades, impôs-se e virou uma pessoa especial.

Criou coragem, passou a ter iniciativa, seja para encontrar um meio de fazer entrar sua irmã mais velha sem convite numa balada concorrida em Nova York, seja para dar palpites mais sérios sobre a vida e até os negócios.

Ela agora está bem em qualquer lugar. Ela é diferente. Perdeu a timidez, ganhou charme, continuou bonita. Ainda doce, mas muito firme.

A braveza da pequena se transformou em segurança e determinação agora na vida adulta. Teve a oportunidade de se abrir para o mundo e não desperdiçou.

Falo de Alessandra, minha filha que em casa chamamos de Leca Meleca. Faço esses elogios para homenageá-la pelos 20 anos, mas também para homenagear um grande número de jovens brasileiros que saem do Brasil para estudar ou trabalhar. Partem despreparados, ingênuos, inseguros, frágeis, deixando para trás lágrimas nos olhos dos pais e amigos. Aceitam os desafios, vão, arrumam forças dentro de si, se agigantam, vencem os problemas e voltam maduros, mais preparados para ajudar o Brasil a ser um país melhor.

Mais do que nunca o país precisa de superação. E vai depender, mais uma vez, muito de seus jovens, honestos, desinibidos, sonhadores, preparados, inteligentes e competentes. Como minha Leca Meleca e milhões de outros por esse Brasil a fora. LUVIU.


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