Folha de S. Paulo


Recuperar o normal

Deveria ser evidente a qualquer economista com algum contato com a história, não importa qual seja a igreja secreta a que pertence, "capitalistóide" ou "socialistóide", que existem limites para o voluntarismo econômico que não podem ser contornados sem graves consequências que, infelizmente, sempre chegam tarde demais, como, por exemplo:

1º) tentação de violar as identidades da contabilidade nacional, que leva a desequilíbrios cumulativos, cuja correção é sempre dolorosa;

2º) a necessidade de calibrar permanentemente o crescimento econômico (produzido pelo investimento) com a imprescindível redução das desigualdades (aumento das oportunidades de consumo);

3º) ignorar que só pode ser distribuído o que já foi produzido internamente, o que se ganhou de presente do exterior com a melhoria das relações de troca ou o que se tomou emprestado do exterior e que deverá ser devolvido no futuro;

4º) desconhecer que o crescimento econômico é somente o codinome do aumento da produtividade dos trabalhadores que depende, basicamente:

a) da saúde, da educação e da experiência de cada um e do volume e da qualidade tecnológica do capital a ele associado (investimento);

b) de como se organiza o processo produtivo nas empresas e sua segurança jurídica, ou seja, da eficiência com que transformam os fatores de produção que usam (trabalho, capital físico, energia e importação) em produtos acabados para consumo interno e exportação e em novos fatores de produção (investimento), o que é facilitado;

c) pela existência de mercados bem regulados que coordenam, por meio de preços relativos livremente estabelecidos, as expectativas de consumo interno e externo com as expectativas de oferta dos produtores;

d) da organização do Estado para prover serviços públicos com eficiência e liberá-lo do controle dos monopólios naturais com suas concessões ao setor privado por meio da criação desses mercados e do estabelecimento da "modicidade tarifária" com leilões bem concebidos e;

5º) deixar de reconhecer que a "ordem" fiscal (deficits estruturais adequados e relação dívida pública bruta/PIB com espaço suficiente para fazer política anticíclica quando necessário) é a mãe de todas as "ordens" e a possibilidade de uma coordenação adequada entre a política fiscal e as políticas monetária, salarial e cambial que produz o equilíbrio interno (baixa inflação) e o externo (deficit em conta corrente saudável).

Façamos apenas o "normal". Dá certo!


Endereço da página: