Folha de S. Paulo


Documentário do Netflix revela as cicatrizes do racismo por Nina Simone

Um novo documentário, disponível no Netflix, joga luz sobre uma das personalidades mais cultuadas e enigmáticas da música do século 20: a cantora Nina Simone (1933-2003). "What Happened, Miss Simone?" foi produzido com apoio da família da norte-americana, que cedeu fotos e imagens raras ou inéditas.

O resultado é um perfil abrangente e informativo sobre uma cantora fora de série, para quem a música sempre foi uma válvula de escape para suas tristezas e convicções sobre a sociedade e a política.

Nascida Eunice Waymon em uma família pobre de oito irmãos na Carolina do Norte, começou a tocar piano em cultos ministrados pela mãe, uma pastora metodista. Eunice sonhava em ser pianista clássica, mas o racismo vigente à época impediu os planos da menina, que acabou cantando blues e jazz em clubinhos de Atlantic City. Para que a mãe não a descobrisse, Eunice adotou o nome artístico Nina Simone.

Divulgação
Cena do documentário
Cena do documentário "What Happened, Miss Simone?"

No fim dos anos 1950, Nina já era famosa por sua voz profunda e marcante. Seus discos vendiam muito. Em 1961, casou com Andrew Stroud, um policial que largou a carreira para virar seu empresário. O relacionamento dos dois era conflituoso e marcado por brigas terríveis. A cantora acusava o marido de espancá-la regularmente.

O filme mostra Nina Simone como uma mulher insegura, profundamente marcada pelo racismo que sofrera na infância e pela violência do marido. No início dos anos 1960, quando a tensão racial e social crescia nos Estados Unidos, ela começou a cantar letras políticas e antirracistas, como a furiosa "Mississippi Goddam". A venda de discos caiu e as ofertas de shows rarearam.

Os últimos 25 anos da vida de Nina Simone foram uma tristeza só: falida e sofrendo de depressão e de câncer, ela acabou tocando em pequenos clubes para os poucos aficionados que ainda a cultuavam.

Assistindo aos muitos números musicais mostrados no filme, é impossível não se convencer de que nunca houve uma cantora como ela.

*

CONEXÕES

Discos

Nina Revisited
Tributo à diva com participação, entre outras, de Lauryn Hill, que canta em seis faixas. Vale para provar que ninguém consegue interpretar Nina Simone como a própria Nina Simone.

ARTISTA: Nina Simone
GRAVADORA: RCA (2015, R$ 35 -importado)

Nina Simone Sings the Blues
Lançado originalmente em 1967, traz Nina no auge e cantando um repertório absolutamente matador, como "Do I Move You?", "Backlash Blues" e "I Want a Little Sugar in My Bowl". De cortar o coração.

ARTISTA: Nina Simone
GRAVADORA: RCA (1967, R$ 50 - importado)

-

LIVRO

A Vítima Perfeita
Hannah, que esteve no Brasil para a Flip, ficou conhecida entre os fãs de romances policiais quando foi escolhida pelos herdeiros de Agatha Christie (1890-1976) para escrever uma nova aventura do detetive Hercule Poirot, "Os Crimes do Monograma" (2014). "A Vítima Perfeita" foi lançado na Europa em 2007 e é um livro tenso e intrincado sobre uma mulher que investiga o sumiço do amante. O final surpreende.

Sophie Hannah; tradução de Alexandre Martins (Rocco, 432 págs., R$ 39,50 ou e-book R$ 25,50)

-

DISCO

Rise: The Collection
Assim que terminou a breve e intensa carreira do Sex Pistols, o cantor John Lydon embarcou numa viagem sonora ainda mais desbravadora, criando o
PIL (Public Image Ltd.). A banda misturava punk, sons eletrônicos e a anarquia musical de grupos do gênero alemão "krautrock", como Can, Faust e Neu!, que Lydon idolatrava. A coletânea é um excelente ponto de partida para quem quer conhecer o PIL.

Public Image Ltd. (Spectrum, 2014, R$ 20 - importado)

-

FILME

Vício Frenético
O americano Harvey Keitel, em uma de suas melhores atuações no cinema, interpreta um tenente da polícia de Nova York que consegue ser pior e mais bandido do que os meliantes que ele persegue. Durante a investigação de um crime cometido contra uma freira, ele se envolve no submundo das apostas ilegais e entra em uma espiral de drogas, sexo e violência que só poderia ter saído da cabeça do diretor Abel Ferrara.

Abel Ferrara (Versátil, 1992, R$ 39,90)


Endereço da página: