Folha de S. Paulo


Mais violentos aos 16 anos

SÃO PAULO - Há dez bons argumentos contra a redução da maioridade penal. Meu favorito foi desenvolvido por dois psicólogos israelenses e revolucionou a teoria do risco. O impacto foi tão relevante nas finanças que deu a um deles, Daniel Kahneman, o Nobel de Economia em 2002.

Ao lado do colega Amos Tversky, ele propôs este problema: uma doença grave ameaça 600 pessoas. Há duas formas de combatê-la: na A, 200 pessoas serão salvas; na B, há 33% de chances de que todos sobrevivam e 67% de que ninguém escape.

Nos estudos, 7 em cada 10 pessoas escolheram A –evitaram o risco.

Nova pergunta foi feita: um programa C levará 400 moradores à morte. Com o D, há 33% de chances de que ninguém morra e 67% de que todos sucumbam. Desta vez, 8 em 10 preferiram arriscar –e foram de D.

Os dois dilemas eram idênticos: 100% de chances (risco zero) de 200 vivos e 400 mortos ou risco de haver 600 mortos ou 600 vivos. A mudança era psicológica: garantir vidas, no primeiro, ou se conformar com mortes certas, no outro.

Conclusão: humanos não são avessos a riscos; têm, sim, horror a perdas. A regra vale para finanças assim como para uma das poucas atividades que rivalizam com o mercado financeiro na crueza da avaliação dos riscos e retornos: o crime.

Parece muito racional acreditar que, quanto maior a possibilidade de castigo, menos risco correrá o criminoso. Reforçar a ameaça de punição, porém, tem efeito inverso, mostraram Kahneman e Tversky.

Se queremos que os jovens hesitem, temos que dar a eles mais opções de ganho. É com PERSPECTIVAS (reais) que o problema se resolve. Quanto mais lhes impusermos perdas, mais violentos eles serão.

Adoraria ter espaço para falar dos outros nove argumentos, mas Antônio Cláudio Mariz de Oliveira já os expôs com muito mais competência ("O Estado de S. Paulo", 22/7).


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