Folha de S. Paulo


O carioca resolveu, por conta própria, abolir o voto obrigatório

Brazil Photo Press/Folhapress

RIO DE JANEIRO - Não precisa andar muito para sentir o clima nem caprichar na metodologia de pesquisa; basta ir até a esquina; tem-se a certeza de que o número de votos brancos e nulos, mais as abstenções, será maior no segundo turno das eleições. Ainda teremos um quase feriadão, com o Dia de Finados, para animar a farra dos descontentes.

No primeiro turno, o Rio foi a cidade com maior abstenção entre as capitais: 24,28% . Somado aos brancos e nulos, o índice chegou a 42,24%, recorde que não se registrava desde a década de 2000 e número superior à votação do primeiro colocado. O carioca resolveu, por sua conta e risco, abolir o voto obrigatório, já que os políticos fogem do tema como o diabo da cruz.

Corte para a quadra do Salgueiro, escola que este ano abriu o desfile com a imagem do Tranca-Rua de capa e cartola. Após a escolha do samba-enredo para o Carnaval de 2017, o locutor pediu votos para Marcelo Crivella. Vaias estrondosas. Com fala doce, o candidato contemporiza tudo, mas não consegue esconder seus vínculos com os valores e práticas medievais da Igreja Universal. Arrisco dizer que, se o pedido fosse feito em favor do enfastiado Marcelo Freixo, os apupos seriam os mesmos. O resultado das urnas será a encarnação da indiferença.

Não há remédio: alguém terá de assumir a prefeitura. Para continuar diminuindo a diferença que o separa de Crivella, Freixo precisa ganhar essa parcela de eleitores que vão de brancos e nulos — ou nem vão.

O alto clero do PMDB fluminense — derrotado ao insistir numa candidatura condenada na origem — agora é adepto do "quanto pior, melhor" em escala municipal. Querem voltar daqui a quatro anos (isso se não inventarem um impeachment no meio do caminho) sem sequer pedir desculpa pelo caos que eles criaram. Ao contrário: oferecem e agradecem, penhorados.


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