Folha de S. Paulo


Flip revelou um Mário fora do armário

Tambores de Candomblé e Jesus de Nazaré: está tudo entrelaçado. É o que disse Mautner a sua plateia em Paraty, na Flip deste ano. Ele tem razão.

O Universo em Desencanto tromba com índios Pataxós. Uma mulher de meia-idade canta Beatles, desafinada, a plenos pulmões, numa esquina no caminho para a Tenda dos Autores. Cada um é cada um.

Mas uns são mais uns que outros. Teve festa em que todo mundo entrava e teve festa barrando na entrada. De alguma maneira, todo mundo acabava dançando. Tudo sob uma chuva que ia e voltava.

Fui a um jantar que virou roda de samba e a outro que acabou em jogo de mímica embalado por um poeta que poderia ser cantor. Contei seis autores da minha editora, felizes, marcando o ritmo com os pés.

Telefone sem fio total. Liz Calder virou Luiz Caldas, que se transformou em Sílvio Caldas, metamorforseou-se em Caldas Aulete, que, quem diria, acabou Arlete Salles.

A Flip ainda acaba cheia de atores. E a Tenda dos Autores virará teatro.

Conversinhas, intrigas, fofocas e flertes, mas ouvi dizer que, nestes cinco dias, fora da literatura, não rola muito sexo, porque, na Flip, o tempo é valioso demais para ser gasto com atividades tão prosaicas.

Cheirinho do amor e neurônios saltitantes foram temas. Fala-se de tudo nessa Flip: tradução, edição, microcontos, autopromoção (muita) e do que se vai fazer -e de quem se vai comer- depois que a festa acabar.

Durante esses cinco dias, entre palco e plateia, gentes e notícias, descobrimos que não estamos sós. Olhamos pro mar e fazemos nossa parte rumo a um lugar melhor. O Brasil visto da Flip faz mais sentido.

Do meu setor favorito na plateia, tinha a impressão de que os autores se acomodavam na carnuda boca do grande Mário do cenário.

Que Mário? O que descobriu que é melhor fora do armário.

PS: Nós ossos que aqui -em Paraty- estamos esperamos pelos vossos. Ah! Na livraria, a mais vendida é uma portuguesa cuja boca nem é tão carnuda quanto a de Mário...


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