Folha de S. Paulo


Pela primeira vez, amadores descobrem sistema planetário

ESA/ATG medialab
Projeto pede para que pessoas identifiquem reduções de brilho em estrelas
Projeto pede para que pessoas identifiquem reduções de brilho em estrelas

Um grupo internacional acaba de descobrir um sistema de cinco planetas –talvez até mesmo seis– ao redor de uma estrela a cerca de 600 anos-luz de distância. Não seria lá grande coisa não fosse por um detalhe: cinco dos descobridores não são cientistas.

É a primeira vez que voluntários, em parceria com cientistas, descobrem um sistema multiplanetário inteiro ao redor de outra estrela.

O resultado, publicado neste mês no "Astronomical Journal", é fruto do projeto Exoplanet Explorers. Trata-se de uma iniciativa que recruta usuários na internet para analisar dados de telescópio e identificar "no olho" pequenas reduções de brilho em estrelas que indiquem a passagem de um planeta à sua frente.

Os dados do projeto vêm do satélite Kepler, que encerrou sua missão principal em 2013, após uma falha de duas de suas quatro rodas de reação –dispositivos usados para manter o apontamento do telescópio embarcado sempre na mesma direção do céu.

Depois da falha da segunda roda de reação, o satélite foi impedido de continuar observando fixamente uma pequena região do céu entre as constelações de Cisne e Lira –é ali, naquele cantinho, que estão as mais numerosas descobertas do Kepler, que já encontrou mais de 2.000 planetas confirmados.

Para não terem de desligar o satélite de vez e irem embora para casa, os engenheiros ligados à missão da Nasa tiveram uma ideia: e se eles usassem a sutil pressão da radiação solar como uma das rodas de reação faltantes, estabilizando assim o apontamento?

Nasceu aí a missão K2, que se diferencia de sua predecessora por limitar suas observações de uma dada região do céu a apenas 80 dias seguidos.

Os cinco planetas descobertos do sistema K2-138 completam uma volta ao redor da sua estrela em 2,35, 3,56, 5,4, 8,26 e 12,76 dias terrestres. Numa observação de 80 dias o planeta mais afastado de sua estrela pôde ser visto transitando à frente dela seis vezes.

O problema de missões como a K2 é a quantidade brutal de dados produzida em tão pouco tempo. A cada 80 dias, o satélite observa dezenas de milhares de estrelas e cada uma precisa ser analisada em busca de sinais de planetas.

Uma primeira análise dos dados é feita por computador. Ocorre que esses cérebros eletrônicos são muito bons em lidar com enormes quantidades de dados, mas não são muito bons em identificar padrões que não estejam claros.

O Exoplanet Explorers apostou que há muitos cérebros humanos por aí capazes de fazer essa análise e assim ajudar os cientistas a fazer grandes descobertas.

"Pessoas de qualquer lugar podem se 'logar' e aprender como se parecem os sinais reais de exoplanetas e então olhar os dados colhidos pelo Kepler e classificar um dado sinal como trânsito ou ruído", explica Jessie Christiansen, pesquisador do Caltech que desenvolveu o projeto em parceria com o astrônomo Ian Crossfield, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

O Exoplanet Explorers, por sinal, não é o primeiro projeto a fazer isso. O pioneiro na busca por exoplanetas foi o Planet Hunters. Ambos estão hospedados no site de ciência-cidadã Zooniverse.org.

AJUDINHA DA TV

Um empurrão de um programa de TV na Austrália chamado "Stargazing Live" fez com que o Exoplanet Explorers fosse tão longe e tão depressa com essa descoberta.

Apenas 48 horas após a apresentação do projeto, o Exoplanet Explorers já tinha mais de 10 mil usuários e cerca de 2 milhões de classificações de sinais do K2.

Dentre as potenciais descobertas feitas em apenas dois dias estavam 44 planetas do tamanho de Júpiter, 72 do tamanho de Netuno, 53 superterras e 44 do porte terrestre.

Na confirmação, chegaram à estrela K2-138, uma anã laranja menor do que o Sol, com seus cinco planetas em órbitas compactas.

A esta altura é mais que certo que os astrônomos podem contar com uma poderosa ferramenta extra computacional.

Editoria de arte/Folhapress

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