Folha de S. Paulo


Análise

Cultura sólida de integridade na pesquisa ainda engatinha no país

faungg's photos/Flickr
Fapesp está processando cientista para reaver bolsa concedida
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São relativamente recentes no Brasil casos de vulto envolvendo má conduta científica. Talvez seja por essa razão que o tema da integridade na pesquisa ainda engatinhe por aqui.

Tome-se o caso do CNPq, uma das principais agências de fomento do país. O órgão federal só criou uma comissão para avaliar casos envolvendo denúncias de fraude científica em 2012, na esteira do escândalo envolvendo o químico da Unicamp Claudio Airoldi, que teve 11 trabalhos "despublicados".

Má conduta científica

Nos EUA, por exemplo, desde 1993 pesquisas financiadas com recursos federais são supervisionadas por órgãos ligados às agências de fomento, que respondem diretamente ao Congresso.

As próprias universidades nacionais, em tese as principais responsáveis –e interessadas– por evitar e punir esse tipo de má conduta, têm se mostrado negligentes com a questão.

Entre as instituições do Estado de São Paulo, de onde sai quase metade dos artigos científicos do país, as primeiras a montarem órgãos internos para coordenar ações de educação, prevenção e apuração de possíveis desvios de conduta de seus pesquisadores foram as federais do ABC e de São Carlos –e só o fizeram em 2015.

Estruturas semelhantes são praxe nas universidades alemãs desde o final da década de 1990. Desse modo, evita-se que que alegações de má conduta sejam tratadas de maneira casuística e enviesada, como já se viu ocorrer no passado em instituições brasileiras.

Em abril deste ano, a Fapesp, maior fundação estadual de apoio à pesquisa, buscou dar um impulso à questão. O órgão de fomento anunciou que, em breve, irá bloquear recursos para universidades que não tiverem uma política clara de boas práticas acadêmicas.

Ter a credibilidade arranhada não foi suficiente para as instituições paulistas se esforçarem para promover uma cultura sólida de integridade científica; talvez o apelo ao bolso funcione melhor.

Editoria de Arte/Folhapress
Picaretagem acadêmica

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