Folha de S. Paulo


Ganhadores de Nobel pedem que Temer interrompa cortes na ciência

Nesta sexta-feira (29), o gabinete da Presidência da República recebeu uma carta de 23 ganhadores do Prêmio Nobel pedindo o fim dos cortes orçamentários nas áreas de ciência e tecnologia.

O documento, assinado pelo físico francês Claude Cohen-Tannoudji, faz referência ao contingenciamento de 44% do orçamento do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) este ano, assim como um possível corte de 15,5% esperado para 2018.

O apelo do grupo faz coro ao da comunidade científica brasileira, que já realizou manifestações contra os cortes. Segundo eles, o resultado será a inviabilização da continuidade da pesquisa científica no Brasil.

Na carta, os laureados afirmam que os cortes irão "prejudicar o país por muitos anos, com o desmantelamento de grupos internacionalmente renomados e uma 'fuga de cérebros' que irá afetar os melhores e jovens cientistas" e "comprometer seriamente o futuro do país".

Procurada, a Presidência da República afirmou que só irá se posicionar nesta segunda-feira (2).

Para a biomédica Helena Nader, que presidiu durante seis anos a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), principal órgão representativo da comunidade científica do país, o apelo internacional e de profissionais premiados pode chamar a atenção do presidente Michel Temer (PMDB).

"Estamos dizendo isso ao governo há mais de um ano. Tivemos várias reuniões com o presidente, mandamos várias cartas para os ministros Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento). O problema é que, no Brasil, ainda se encara educação e ciência como despesas, e não como investimento como faz o resto do mundo", afirma.

Segundo Nader, os cortes vão levar o Brasil à "era das trevas" e as consequências para a ciência serão irreversíveis. "Isso vai fazer com que todos os institutos de ciência e tecnologia ligados ao ministério fechem as portas. Nós não estamos defendendo nenhuma classe ou pedindo aumento de salário. Estamos pedindo que o financiamento seja mantido para termos um Brasil competitivo".

A biomédica ainda afirmou que a carta foi uma iniciativa dos laureados após uma série de artigos publicados em revistas internacionais como 'Nature' e 'Science'. "Alguns dos premiados são pessoas que já vieram ao Brasil algumas vezes, que conhecem e valorizam a ciência brasileira".

Leia a carta na íntegra.

"Vossa excelência Presidente Michel Temer,

Nós, os assinados abaixo ganhadores do prêmio Nobel, estamos escrevendo para expressar nossa forte preocupação sobre a situação da Ciência e Tecnologia no Brasil. O orçamento para pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações sofreu um corte de 44% em 2017, e um novo corte de 15,5% é esperado para 2018. Isso vai prejudicar o país por muitos anos, com o desmantelamento de grupos internacionalmente renomados e uma 'fuga de cérebros' que irá afetar os melhores e jovens cientistas.

Enquanto em outros países a crise econômica levou, às vezes, a cortes orçamentários de 5% a 10% para a ciência, um corte de mais de 50% é impossível de ser acomodado, e irá comprometer seriamente o futuro do país.

Nós sabemos que a situação econômica do Brasil está muito complicada, mas pedimos que reconsidere sua decisão antes que seja tarde demais."

Signatários

Nobel de Medicina

Harold Varmus (1989)

Jules Hoffman (2011)

Tim Hunt (2001)

Torsten Wiesel (1981)

Nobel de Química

Martin Chalfie (2008)

Johann Deisenhofer (1988)

Robert Huber (1988)

Ada Yonath (2009)

Dan Shechtmann (2011)

Venkatraman Ramakrishnan (2009)

Jean-Marie Lehn (1987)

Yuan T. Lee (1986)

Nobel de Física

Albert Fert (2007)

David Gross (2004)

Serge Haroche (2012)

Claude Cohen-Tannoudji (1977)

Andre Geim (2010)

Robert B. Laughlin (1998)

Frederic Duncan M. Haldane (2016)

Klaus von Klitzing (1985)

Arthur McDonald (2015)

Takaaki Kajita (2015)

Jerome Friedman (1990)


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