Folha de S. Paulo


Cientistas acham anquilossauro, espécie inédita de dinossauro no Brasil

Divulgação
Concepção artística de anquilossauro a partir de suas pegadas
Concepção artística de anquilossauro a partir de suas pegadas

Um grupo de pesquisadores encontrou no interior do Rio Grande do Sul o primeiro vestígio no Brasil de um anquilossauro –quadrúpede herbívoro que se distingue pela sua carapaça nas costas.

A descoberta foi feita em 2014 na cidade gaúcha de Rosário do Sul (a 400 km de Porto Alegre), mas só foi publicada recentemente na revista especializada "Ichnos".

O animal do período Jurássico (entre 203 milhões e 145 milhões de anos atrás) ganhou fama nas telas de cinema em uma cena de Jurassic Park 3, em 2001, devorando calmamente folhas que eram o seu principal alimento.

Já havia registros da presença de anquilossauros na Bolívia e na Argentina, mas em rochas com cerca de 80 milhões de anos. Devido à idade das rochas de Rosário do Sul, estima-se que as pegadas deixadas por lá tenham pelo menos 150 milhões de anos -o que tornaria os animais brasileiros os mais antigos da América do Sul.

Heitor Francischini, Marcos Sales e Cesar Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Paula Dentzien-Dias, da Universidade Federal de Rio Grande, coletavam dados para um artigo quando se depararam com cinco pegadas.

"Tiramos fotos, mas não tínhamos ideia de que se tratava de um anquilossauro. Só depois, analisando as imagens, é que vimos que se tratava de uma grande novidade", diz Francischini.

Para o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ, qualquer descoberta relacionada aos anquilossauros tem importância porque os animais são raros.

Para ele, os resultados são relevantes porque aumentam a diversidade de grupos de dinossauros identificados no país. Kellner diz ainda que as pegadas precisam ser bem coletadas e analisadas.

O problema é que, quando os pesquisadores voltaram para fazer mais fotos e coletá-las em definitivo, a estrada de terra onde elas se encontravam já havia sido mexida e as pegadas desapareceram.

O que sobrou foram reproduções e fotos, que agora são analisadas para tentar identificar a espécie.

Os pesquisadores já compararam as marcas das pegadas com a de outros dinossauros encontrados no mundo. O animal que deixou a trilha era um quadrúpede, com quatro dedos nas patas, sendo as dianteiras bem menores que as traseiras. Ainda não foi possível determinar se os animais tinham espinhos nas costas e se a cauda tinha forma de clava.

Por enquanto, os pesquisados podem definir apenas alguns pontos do animal. "Trata-se de um novo grupo de herbívoros que habitou a região sul do Brasil. Até então a presença deles ali era inimaginável" diz Francischini.

O grupo segue com os trabalhos em Santana do Livramento e Rosário do Sul. A expectativa é que a descoberta seja apenas o início dos estudos com os anquilossauros no Brasil. "A descoberta das pegadas só nos trouxe mais dúvidas e mais trabalho" diz o pesquisador.


Endereço da página: