Folha de S. Paulo


Mitocôndria pode chegar à espantosa temperatura de 50°C, diz estudo

Science Photo Library
Mitocôndrias observadas por meio de microscopia eletrônica e coloridas digitalmente em rosa
Mitocôndrias observadas por meio de microscopia eletrônica e coloridas digitalmente em rosa

Um grupo internacional de cientistas está tentando pôr em xeque boa parte do que se sabe a respeito das pequenas usinas de força da célula, as mitocôndrias. Elas funcionariam também como pequenos braseiros.

Segundo alguns experimentos, as organelas podem chegar à espantosa temperatura de 50°C –o corpo humano saudável tende a permanecer em torno dos 37°C.

Os resultados foram obtidos com o auxílio de sondas intracelulares fluorescentes e, caso confirmados, adicionam uma bela uma camada de complexidade à biologia celular.

Isso porque em vez de adotar um modelo de célula em que todos os compartimentos têm a mesma temperatura (e proteínas, que compõem a maquinaria celular têm uma temperatura ótima para operar), seria necessário pensar que há zonas celulares que podem ter seu desempenho "ótimo" em outra faixa de temperatura.

Algumas enzimas importantes para a típica atividade mitocondrial de produzir ATP (molécula energética usada em processos fisiológicos como a contração muscular) podem ter um comportamento muito diferente na realidade do que aquele observado em testes laboratoriais in vitro conduzidos na temperatura "errada" de 37°C.

Outra coisa que pode mudar é a interpretação do papel da localização da mitocôndria na célula.

Sabendo que a organela pode funcionar como um pequeno braseiro, o fato de ela estar perto de determinadas regiões da célula, como o núcleo, pode significar não só um fornecimento mais rápido de ATP para os processos celulares daquela região, mas também uma fonte de calor para fazê-los funcionar de forma otimizada.

O estudo, realizado por cientistas da França, Alemanha, Coreia do Sul, Finlândia, Líbano e Cingapura, está publicado na plataforma bioRxiv, que abriga trabalhos que ainda não foram revisados por cientistas independentes.

Dado o impacto dos resultados, provavelmente haverá um grande número cientistas interessados em testar a novidade com novos experimentos e ajudar a reescrever as regras da biologia.


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