Folha de S. Paulo


Em SP, marcha tem feira de ciências e discursos contra corte em pesquisas

A Marcha pela Ciência de São Paulo teve mais cara de feira de ciência do que de protesto, com barracas que tinham réplicas de fósseis e explicações sobre evolução e também demonstrações da relação entre mágica e matemática.

A ideia era falar do interesse que a ciência desperta e de sua importância para o desenvolvimento de um país.

Em um palco montado no meio do largo da Batata, Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência), levantou aplausos do pequeno público que a assistia discursando sob a chuva.

"O Brasil, apesar de todos os alertas, mutilou os orçamentos", afirmou. "Chega de classificar a gente como gasto. Nós somos investimento."

O evento mundial Marcha pela Ciência, ocorrido neste sábado (22), dia da Terra, reuniu milhares de pessoas em mais de 60 países.

A presidente da SBPC disse, em seguida, que a cada cem reais gastos pelos governo com os ministérios, 32 centavos vão para a ciência. "O planejamento não nos enxerga como investimento, não percebe que é a ciência que vai tirar o país da crise", afirmou Nader à Folha.

Segundo Nader, o próximo passo é articular uma Marcha pela Ciência no Congresso Nacional. "Pessoas falando por 1h, 1h30, sem nenhuma outra atividade."

A marcha de São Paulo contou com um público relativamente pequeno. Para Helena Nader, o feriado atrapalhou. Joaquim Filho, presidente da associação dos pesquisadores científicos do Estado de São Paulo, afirma que o dia chuvoso e a descrença também podem ter pesado na baixa participação. "As pessoas lutam há anos sem conseguir nada", diz.

TREVAS

Uma volta ao obscurantismo foi um dos pontos constantemente levantados nos cartazes e pela fala dos participantes da marcha.

Segundo Nader, há sinais de uma volta ao obscurantismo. "Estamos com projetos de leis questionando o ensino de ciência", diz. "Ciência não é crença."

"Não existe futuro sem ciência. Necessitamos encontrar alguma voz para o futuro", diz Elisa Chaparro, pesquisadora do Instituto Butantan que estuda o uso de produtos naturais para criação de fármacos. "Se você tem mais de 40 anos e está vivo, de nada", brinca a cientista.


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