Folha de S. Paulo


Rinocerontes 'planejam família' escolhendo o sexo dos filhotes

Scott Olson/AFP
Fêmea de rinoceronte-negro e seu filhote, no Lincoln Park Zoo, em Chicago, nos EUA
Fêmea de rinoceronte-negro e seu filhote, no Lincoln Park Zoo, em Chicago, nos EUA

Uma importante teoria biológica proposta em 1930 foi comprovada agora graças à reintrodução de espécimes de rinoceronte na natureza no sul da África.

Os rinocerontes conseguiram modificar o sexo das suas crias para evitar a dominação numérica na população, seja por machos ou fêmeas, algo que afetaria negativamente a competição na hora da reprodução.

O processo é particularmente importante no caso de espécies em alto risco de extinção, como os rinocerontes-negros (Diceros bicornis).

O estudo, publicado em edição recente da revista científica "Nature Ecology & Evolution", foi feito com dados de reprodução de rinocerontes reintroduzidos na natureza 45 vezes de 1981 a 2005, na África do Sul e Namíbia, por pesquisadores liderados por Wayne Linklater, da Universidade Victoria, de Wellington, Nova Zelândia.

Essa é a primeira comprovação prática de que populações com desequilíbrio entre os sexos podem resultar em uma resposta dos pais, compensando e "corrigindo" o problema. Com isso, mais machos ou mais fêmeas são gerados, dependendo do caso.

O desequilíbrio variava muito de acordo com a população. Em um caso, originariamente 75% dos animais eram machos. Foram gerados 152 filhotes machos e 134 fêmeas.

"Isto é chamado de resposta homeostática da distribuição do sexo [conhecida pela sigla em inglês HSA], uma teoria biológica proposta em 1930", afirma Linklater.

A HSA "é a capacidade de uma razão entre sexos, em uma população, de retornar a um estado de equilíbrio, muitas vezes próximo da paridade, ao enviesar a razão entre sexos no nascimento na direção oposta", disse ele.

E o que causaria essa ação "corretiva"? "Não sabemos. Mas suspeitamos que o mecanismo fisiológico é 'desencadeado' pela competição entre os sexos que é modificada quando as razões sexuais se desviam do equilíbrio. Vários mecanismos fisiológicos são possíveis", declara.

Populações animais nas quais a HSA pode ocorrer tenderiam, então, a ter maior viabilidade, povoando o ambiente mais rapidamente. Um melhor conhecimento dessa distribuição "homeostática" do sexo poderá ajudar os biólogos no estudo de espécies invasoras e no gerenciamento da conservação.


Endereço da página: