Folha de S. Paulo


Estudo desvenda origem da Rota da Seda, que ligava Europa e China

As milenares rotas comerciais entre Oriente e Ocidente foram batizadas no século 19 de Rota da Seda. Eram vários caminhos distintos cruzando o centro da Ásia, mas a seda era apenas uma das mercadorias valiosas que eram transportadas; também havia ouro, prata, jade, âmbar, vinho e especiarias levados em camelos, cavalos, muares.

Se de um lado havia o poderoso Império Romano e seu apetite frenético pela seda e outros produtos exóticos, do outro havia a igualmente rica China, interessada em mercadorias diferentes produzidas do outro lado do mundo conhecido. Estradas bem cuidadas nos dois grandes impérios facilitavam o comércio, assim como as grandes cidades ao longo da rota.

Mas para que leste e oeste pudessem realizar essas trocas foi preciso antes a abertura de caminhos mais humildes entre as elevadas montanhas da Ásia central. E quem fez isso foram pastores nômades e as milhares de patas de seus rebanhos que criaram uma rede de trilhas agora desvendada graças a imagens de satélite e software de mapeamento geográfico.

Editoria de Arte/Folhapress

Essa revelação foi feita agora em artigo publicado na atual edição da revista científica "Nature" pelo pesquisador Michael Frachetti da Universidade Washington em Saint Louis, Missouri (EUA), e mais três colegas.

As rotas da seda tinham um tráfego intenso no século 3 a.C., mas bem antes disso –4.000, 4.500 anos atrás– os pastores nômades já possuíam uma rede própria de caminhos, que a princípio serviam para mover os rebanhos para áreas de melhores pastagens, mas acabaram criando as trilhas que os pioneiros mercadores passaram a usar.

Até agora, os pesquisadores estavam restritos a ligar os pontos entre os diferentes sítios arqueológicos ao longo das rotas para obter o traçado dos caminhos. Frachetti e colegas ignoraram esses dados, testando a relação entre a mobilidade nomádica e a geografia das terras altas.

Baseados em modelos computacionais que simulam o fluxo de água no ambiente, especialmente em torno de elevações, os pesquisadores adaptaram a simulação para os movimentos dos pastores ao longo das encostas das montanhas em busca das pastagens ideais. No verão, era possível levar os rebanhos a até 4.000 metros de altitude; no inverno era preciso descer para em torno de 750 metros.

Mas os nômades não escolhiam os caminhos mais fáceis, e sim os que tinham maior qualidade de pasto sazonal.

"Nosso modelo usa variáveis que são relevantes para o nomadismo nas montanhas para simular a 'acumulação de fluxo' do pastoreio anual através das terras altas da Ásia, sem usar dados dos sítios conhecidos da Rota Seda", afirmaram os autores.

Eles então compararam as redes simuladas de 'fluxo' com os locais históricos nas montanhas de sítios da Rota da Seda, testando a relação entre a mobilidade nômade e a interação com a geografia das montanhas da rota.

"Pastores móveis são reconhecidos como importantes agentes de trocas entre centros comerciais antigos de leste a oeste. No entanto, determinar seu impacto na geografia das estradas e nos nós sociais que sustentaram a interação histórica da rota da seda é algo bem menos explicitamente documentado e raramente quantificado", dizem os pesquisadores.

Para eles, as difíceis trilhas descobertas nas montanhas indicam que provavelmente os mercadores e viajantes raramente cobriam longas distâncias, mas faziam seu intercâmbio em uma série de trocas em distâncias curtas.

As fontes históricas também falam de artesãos itinerantes, mercadores, nômades, monges e outros que deixam as rotas mais fáceis das terras baixas e oásis e se embrenham nas montanhas.


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