Folha de S. Paulo


Saída de diretor do Butantan gera paralisação e manifestações de apoio

Rogerio Cassimiro/Folhapress
Área da fábrica de hemoderivados do Instituto Butantan
Área da fábrica de hemoderivados do Instituto Butantan

Desde a exoneração de Jorge Kalil, ex-diretor do Instituto Butantan, na última terça-feira (21), funcionários da instituição têm organizado atos e paralisações em favor do imunologista.

A saída aconteceu após a divulgação de dados de um relatório de auditoria que apontava indícios de irregularidade em sua gestão.

Nesta sexta (24), a fábrica responsável por produzir a vacina da gripe teve suas atividades paralisadas, como mostram fotos obtidas pela reportagem. Cerca de 200 funcionários deram um abraço simbólico no prédio.

Segundo o pesquisador Enéas de Carvalho, do Butantan, foi um ato independente dos trabalhadores do setor produtivo que ocorreu simultaneamente a outras ações dos cientistas, que se reuniram com o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, David Uip, em busca de explicações para o que Carvalho classifica como uma "mudança abrupta".

Segundo Uip, havia uma incompatibilidade da visão de gestão do instituto –Kalil chegou a acumular a direção do instituto com a presidência da Fundação Butantan, que cuida das finanças da entidade.

"Qualquer grande instituição tem problemas administrativos. Claro que nós [pesquisadores do Butantan] queremos que qualquer possível irregularidade seja investigada, mas isso não justifica tirar um gestor assim. É uma atitude desproporcional, ainda mais porque o professor Kalil estava respondendo a todos esses questionamentos apontados", diz Carvalho.

Para o cientista, se o secretário queria trocar o diretor, poderia tê-lo feito de uma maneira mais suave e benéfica para a instituição.

Segundo Stephen Whitehead, um dos responsáveis pela nova vacina da dengue nos NIH (Institutos Nacionais de Saúde, nos EUA), o bom momento do desenvolvimento será "irreversivelmente interrompido" pela saída de Kalil. O projeto da nova vacina é uma colaboração entre o Butantan e a instituição americana.

SUPORTE

Segundo Carvalho, após o Carnaval os pesquisadores devem se reunir para discutir como devem ser as próximas etapas do movimento de apoio a Kalil e que enxerga a mudança como uma interferência desnecessária no instituto.

"Kalil era um agente de boas mudanças. No tempo que ficou, conseguiu, junto com as pessoas que escolheu, realizar várias melhorias no instituto e recuperá-lo. Toda a comunidade ficou apreensiva com o que aconteceu", diz.

O ex-diretor também tem carisma na comunidade científica. Houve várias manifestações de apoio a sua gestão e pedidos de recondução ao cargo, como a da geneticista Mayana Zatz e do microbiologista Paolo Zanotto.

Entre seus apoiadores institucionais estão a Academia Brasileira de Ciências, a Academia de Ciências do Estado de São Paulo e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entre outras.

O médico hematologista Dimas Tadeu Covas foi escolhido para ser o novo diretor do Instituto Butantan.


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