Folha de S. Paulo


Trânsitos dos planetas descobertos facilitam observação a partir da Terra

Uma combinação de fatores torna a descoberta do sistema de planetas em Trappist-1 dos mais importantes da história da pesquisa de mundos fora do Sistema Solar.

Isso porque ele reúne duas condições fundamentais: está perto o suficiente de nós e seus planetas realizam trânsitos frequentes à frente de sua estrela, com relação a observadores por aqui.

São raríssimos os casos conhecidos até agora a combinar essas duas qualidades. Os milhares de planetas descobertos até hoje pelo satélite Kepler, da Nasa, fazem os tais trânsitos, mas costumam estar longe demais.

NASA/JPL-Caltech
O sistema planetário Trappist-1, com sete planetas
O sistema planetário Trappist-1, com sete planetas

Já os mundos descobertos nas redondezas do Sistema Solar, como o intrigante Proxima Centauri b, a apenas 4,2 anos-luz de distância, não parecem estar alinhados para realizar trânsitos, do nosso ponto de vista. Ao reunirem as duas qualidades, os planetas de Trappist-1 colocam suas atmosferas à disposição dos cientistas.

Toda vez que eles realizam um trânsito à frente dela, parte da luz estelar cruza de raspão seu invólucro de ar e chega até nós, carregando consigo a "assinatura" de átomos e moléculas que encontrou pelo caminho.

Esse seria um caminho para determinar a composição atmosférica dos planetas e, quem sabe, detectar até mesmo evidências de vida neles. Se um astrônomo extraterrestre analisasse o "espectro de transmissão" da Terra, para usar o jargão (científico, não alienígena), ele veria grandes quantidades de oxigênio molecular nela.

Outros planetas potencialmente habitáveis

Essa presença, por sua vez, não poderia ser explicada por nenhum fenômeno conhecido, exceto a vida. São as plantas e cianobactérias que injetam constantemente o oxigênio que respiramos no ar. É exatamente isso que os cientistas querem começar a fazer agora. O Telescópio Espacial Hubble já começou investigações desse tipo.

Observações feitas com ele, por exemplo, permitiram descartar a presença de atmosferas ricas em hidrogênio e hélio para os dois planetas mais externos do sistema Trappist-1 –algo que já era esperado, uma vez que atmosferas assim são típicas de gigantes gasosos, e não mundos rochosos.

A grande revolução deve começar, contudo, a partir de 2018, quando a Nasa pretende lançar o Telescópio Espacial James Webb. Com espelho maior que o do Hubble (6,5 m contra 2,4 m) e espectrógrafos sensíveis em infravermelho, ele poderá detectar diversos componentes atmosféricos importantes, como metano, oxigênio, ozônio e vapor d'água.

RAIO-X DO NOVO SISTEMA

Isso quer dizer que vamos encontrar vida em algum dos planetas em Trappist-1? Não necessariamente. Como lembrou ontem Sara Seager, astrônoma do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e especialista em estudos de atmosfera de exoplanetas, "nós teremos a capacidade de detectar bioassinaturas, mas a natureza terá de fazer a sua parte".

O Trappist-1, com seus sete planetas, é um ótimo ponto de partida para essa busca. Mas, claro, precisamos de mais alvos. Por isso, até o fim deste ano, a Nasa também pretende lançar o satélite Tess. À moda do Kepler, ele procurará planetas ao detectar trânsitos deles à frente de suas estrelas –mas deve se concentrar em alvos como o Trappist-1, cuja proximidade permitirá posterior caracterização atmosférica.


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