Folha de S. Paulo


Brasileira na Nasa lamenta falta de investimentos em ciência no país

Joel Silva/Folhapress
Astrônoma brasileira Duilia de Mello, durante palestra na Campus Party em São Paulo
Astrônoma brasileira Duilia de Mello, durante palestra na Campus Party em São Paulo

Entre as palestras mais disputadas do terceiro dia da Campus Party estava a da brasileira Duilia de Mello, uma das astrônomas mais reconhecidas do país, atualmente parte do time do telescópio Hubble na Nasa.

Responsável pela descoberta de uma estrela, a 1997D –distante mais de 53.8 milhões de anos-luz da Terra– e do fenômeno das Bolhas Azuis, estrelas solitárias entre as galáxias, Duilia mostrou algumas imagens de campo profundo do telescópio.

Os 'campuseiros' se aglomeraram nas cadeiras, em pé e até sentados pelo chão para ver as imagens dos pontos mais distantes do universo e ouvir mais sobre a carreira da cientista.

Durante a coletiva, Duilia comentou sobre ter saído do país ainda no final da década de 1990. "Foi uma decisão pessoal, naquela época eu decidi sair porque não sentia confiança de que o governo brasileiro investiria em ciência" disse.

Sobre as recentes ameaças de corte nos repasses destinados às bolsas da CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a astrônoma, que já foi bolsista do programa, disse lamentar o atual momento do país e as decisões tomadas, pois geram a fuga de cérebros.

"Isso demonstra a falta de visão do país, em um momento em que precisamos muito investir em ciência e inovação, deixamos gênios irem embora. Não se inova sem investir em pesquisa e sem investir em ciência de base".

Apesar de elogiar o trabalho feito por astrônomos no Brasil e a participação do país em consórcios internacionais para construção e manutenção de observatórios, ela lamenta a demora na assinatura do acordo para participação no Observatório Europeu do Sul, no Chile, que se arrasta por anos e pode deixar o Brasil de fora do projeto.

"Podíamos inclusive ter participado mais e concorrido para a construção desse projeto. Somos uma comunidade de mais de 700 astrônomos no país, muito atuante, produzindo dados de qualidade. Seria de grande valia".

Quando perguntada sobre o que aprendeu da humanidade observando as imagens mais distantes do universo, Duilia não titubeou: "Como somos egoístas em pensar que temos algum valor perante o universo. Não somos nem poeira de estrelas. Constatar isso me fez entender melhor o valor da vida".


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