Folha de S. Paulo


Nova cúpula de segurança para reator de Chernobyl é inaugurada

GLEB GARANICH/Reuters
Nova cúpula foi construída sobre a anterior
Nova cúpula foi construída sobre a anterior

A Ucrânia inaugurou nesta terça-feira (29) uma cúpula de metal construída sobre o reator acidentado da central nuclear de Chernobyl para garantir a segurança das instalações durante os próximos cem anos.

A estrutura metálica, com forma de arco, pesa 25 mil toneladas (36 mil quando estiver equipada) e mede 108 metros de altura e 162 metros de comprimento.

"Isto equivale a poder cobrir o Stade de France ou a Estátua da Liberdade", explica em um comunicado a Novarka, empresa formada pelos grupos franceses Bouygues e Vinci, que concebeu e construiu a cúpula.

Com uma expectativa de vida de pelo menos cem anos, a estrutura permitirá confinar o material radioativo, proteger os trabalhadores do local e isolar o sarcófago já existente contra as mudanças da meteorologia.

Além disso, deve dispor de equipamentos para as futuras operações de desmantelamento do reator Nº4.

Em 26 de abril de 1986, às 1h23, este reator explodiu durante um teste de segurança. Por 10 dias o combustível nuclear ardeu, despejando na atmosfera elementos radioativos que acabariam contaminando, segundo algumas estimativas, até 75% da Europa, sobretudo Rússia, Ucrânia e Belarus, na época repúblicas soviéticas.

Quase 90 mil pessoas trabalharam durante 206 dias na construção de um "sarcófago", uma estrutura metálica de 7.300 toneladas e composta de 400 mil metros cúbicos de cimento, em condições muito difíceis, para isolar o reator acidentado, explicou à AFP Anna Korolevska, diretora adjunta do museu Chernobyl de Kiev.

"Isto aconteceu graças aos esforços sobre-humanos de milhares de pessoas comuns", disse.

"Quais eram os meios de proteção? Trabalhavam com uniformes comuns de operários da construção", recorda Korolevska.

Durante quatro anos, quase 600 mil soviéticos, conhecidos desde então como "liquidadores", foram enviados ao local do acidente para apagar o incêndio, construir a camada de cimento para isolar o reator e limpar a área próxima.

O balanço humano da catástrofe continua sendo uma fonte de debate. O comitê científico da ONU (UNSCEAR) reconhece oficialmente apenas 30 mortos entre os operários e bombeiros que ficaram expostos à radiação imediata após a explosão, mas algumas estimativas afirmam que o número pode chegar a milhares de falecidos.

SARCÓFAGO

Apesar de em um primeiro momento as autoridades acreditarem que o sarcófago duraria entre 20 e 30 anos, sua vida acabou sendo mais curta. Em 1999 foram realizadas as primeiras obras de reforço, que se repetiram em 2001, 2005 e 2006.

"É uma construção potencialmente perigosa, que supõe uma ameaça eventual para o meio ambiente e para a população", declarou à AFP Sergui Paskevitch, do Instituto de Problemas de Segurança das Centrais Nucleares da Academia de Ciências da Ucrânia.

Paskevitch explicou, por exemplo, que fatores ambientais como um terremoto poderiam acelerar o afundamento da estrutura.

A nova cúpula deve resistir a terremotos com uma intensidade máxima de nível 6, de acordo com a escala de Mercalli (de 12 níveis).

Ante o risco de afundamento do antigo sarcófago, que poderia comportar o vazamento de toneladas de magma altamente radioativa, a comunidade internacional se comprometeu a financiar a construção da nova capa.

De acordo com o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, a construção da cúpula, iniciada em 2012, alcançou 1,5 bilhão de euros, mas o valor de todo o recinto de confinamento chegou € 2,1 bilhões.

Após a instalação, a cúpula não será operacional até o fim de 2017, quando serão instalados todos os equipamentos necessários.

"Depois começarão as obras para desmantelar a instável antiga construção", declarou Sergui Bojko, diretor de inspeção do Estado para a regulamentação nuclear (organismo responsável pela segurança nuclear na Ucrânia). Mas ele explicou que não há um calendário preciso.


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