Folha de S. Paulo


Brasileiros reconstituem rosto pré-inca

Um cadáver repousa sobre uma placa de ouro. O corpo está junto a um capacete que forma uma meia-lua. Na tumba, estão presentes ainda dois guardas, enterrados junto ao esqueleto. Esse é o Senhor de Sipán, governante, entre os séculos 2 e 3, de uma civilização peruana pré-Inca, os Moches.

Os restos do esqueleto foram descobertos em 1987.

Paulo Miamoto, professor de odontologia da Faculdade São Leopoldo Mandic, e Cícero Moraes, vice-coordenador da Ebrafol (Equipe Brasileira de Antropologia Forense e Odontologia Legal), usando somente um smartphone e seu potencial de processamento, conseguiram reconstituir em 3D como seria a aparência do governante.

A utilização de um smartphone para fotografar o crânio foi especificamente pensada para mostrar como o processo pode ser reproduzido por outras equipes sem a necessidade de aparelhos caros e sofisticados. Da mesma forma, a reconstituição foi feita com um software gratuito de código aberto.

SENHOR DE SIPÁN

Com o estudo da ossada, foi possível, determinar que se tratava de um homem entre 35 e 50 anos. Os restos são mantidos no acervo arqueológico do Museu Tumbas Reais de Sipán, em Lambayeque, no Peru.

Quando pensamos em governantes de eras pré-Estado Moderno, é possível imaginar mortes sangrentas, conspirações pelo trono e traições.

Contudo, pelo menos a parte da violência ficou de fora da morte do Senhor de Sipán, ainda que sua causa exata não seja conhecida. O crânio acabou esmagado pela ação do tempo e pelo peso do solo acumulado sobre a tumba.

Os restos do governante colocaram em evidência, na região da descoberta, a importância da preservação da cultura e da história. "As pessoas da zona rural, pelas poucas fontes de renda, estavam saqueando sítios arqueológicos", afirma o professor Miamoto.

ATUALIDADE

Miamoto é também coordenador da Ebrafol e pesquisa identificação humana. Ele afirma que, além de contribuir para preservação da história, estudos como a reconstituição realizada têm objetivos forenses.

"Quando existe uma ossada e não há ninguém procurando por ela, alguém pode reconhecer a reconstrução do rosto e entrar em contato", diz Miamoto.

"Pode melhorar a produção da prova pericial."

O pesquisador afirma que o próximo desafio, já em negociação, é fazer a reconstituição facial de duas múmias egípcias.


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