Folha de S. Paulo


Leitura de livros aumenta longevidade, afirma estudo

Fernando Mola/Folhapress
Pesquisa diz que quem lê livros tem redução de 20% no risco global de mortalidade
Pesquisa diz que quem lê livros tem redução de 20% no risco global de mortalidade

"'Viram?', disse Hermione quando Harry e Rony terminaram. 'O cachorro deve estar guardando a Pedra Filosofal de Flamel!'. 'Uma pedra que produz ouro e não deixa a gente morrer!', exclamou Harry."

O trecho de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" pode ser adaptado, pelo menos em partes, para a vida real. É só trocar a pedra filosofal por um livro.

Claro que a ideia de vida eterna também é um exagero, mas uma pesquisa recente afirma que a leitura de livros pode resultar em um tempo a mais de vida.

Ler livros reduziu, aparentemente, em 20% os riscos de mortalidade das pessoas que, por 12 anos, foram acompanhadas. A pesquisa, publicada na revista "Social Science & Medicine", utilizou dados do Health and Retirement Study, realizado pela Universidade de Michigan. Os 3.635 entrevistados eram adultos acima de 50 anos.

Além de verificar se e quanto as pessoas liam, o estudo, chamado "A Chapter a Day" (Um Capítulo por Dia, em tradução livre), precisou "descontar" o efeito de alguns fatores que influenciam a longevidade, entre eles: câncer, doenças de pulmão, infarto, diabetes e hipertensão. Estado civil e situação e trabalho, histórico de depressão, idade, sexo, raça e condição econômica também foram considerados.

Mesmo assim, os pesquisadores da Universidade Yale constataram uma bela vantagem na sobrevivência daqueles que liam em média 30 minutos por dia, quando comparados a não leitores. "É divertido saber que quanto mais leio mais tempo vou ter para ler", diz o professor de literatura Edmundo Juarez, 57.

O estudo afirma que livros propiciam uma "leitura imersiva", na qual o leitor consegue fazer conexões entre o que está sendo lido e o mundo ao redor, as possíveis aplicações daquilo na vida real.

Vocabulário, concentração, pensamento crítico, empatia, comportamentos mais saudáveis e menos estresse. A melhora de todos esses processos cognitivos, no fim, pode levar a uma vida um pouco mais longa.

Juarez concorda que a leitura diária melhora a saúde mental. Um dia sem livros faz com que ele se sinta mal. "É o melhor passatempo que existe e é barato. O tempo passa voando, mesmo que ele vá devagar. Você se sente bem ao terminar a leitura."

O brasileiro, em geral, tem opiniões um pouco diferentes sobre o assunto. Segundo a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", divulgada este ano pelo Instituto Pró-livro e pelo Ibope Inteligência, apenas 24% dos entrevistados disseram gostar de ler livros no tempo livre.

Redes sociais, televisão, música, WhatsApp, tudo isso está na frente da leitura de livros no gosto dos brasileiros. A mesma porcentagem de pessoas, 24%, declararam gostar de ler jornais e revistas no tempo livre, outro tipo de leitura que também foi levado em conta na análise dos pesquisadores da Universidade Yale. Contudo os resultados para os periódicos, mesmo ainda positivos, não foram tão expressivos.

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Mesmo que o estudo norte-americano tenha tentado controlar todos os fatores que, de alguma forma, poderiam influenciar na expectativa de vida, algumas coisas podem ter escapado.

"A qualidade da educação recebida. Se uma pessoa estudou em escolas melhores (mesmo tendo a mesma escolaridade), isso pode ter levado ela a, ao mesmo tempo, ler mais livros e também a adquirir maior conhecimento sobre saúde que a levem a tomar mais cuidado com a sua saúde e portanto viver mais", afirma Alexandre Chiavegatto, professor de estatísticas de saúde da USP.

Mesmo com a pesquisa bem conduzida, mais estudos ainda são necessários para provar a relação. "Se a associação for confirmada no futuro, espero que escrevam um livro sobre o assunto", brinca Chiavegatto. Na dúvida, vale guardar sua pedra filosofal –ou tentar encontrar uma.

Os brasileiros e os livros


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