Folha de S. Paulo


Em busca do azeite perfeito, cientistas analisam genoma da oliveira

David Bruhlmeier/Wikimedia Commons
Oliveira em Maiorca, na Espanha
Oliveira em Maiorca, na Espanha

Na busca da perfeita azeitona e do mais puro óleo, uma equipe de pesquisadores espanhóis sequenciou o genoma da oliveira, que provavelmente é a árvore mais antiga que foi domesticada pelo ser humano.

A domesticação da oliveira, nome científico Olea europaea, ocorreu há cerca de 6.000 anos. O espécime sequenciado é da variedade conhecida como Farga, típica do leste da Espanha, e tem idade estimada em 1.200 anos.

É difícil achar uma árvore tão emblemática de uma região como é a oliveira, típica de países do sul da Europa, e com grande importância na dieta e na economia de países como Itália, Grécia, Portugal e notadamente Espanha, país que responde por quase um terço dos três milhões de toneladas de óleo de oliva produzidas por ano.

A análise do genoma vai permitir estudar as diferenças entre variedades, tamanhos e sabores das azeitonas, assim como entender a alta longevidade da árvore, e sua incrível capacidade de adaptação a terrenos áridos.

ONDE ESTÃO AS AZEITONAS

Outro objetivo é encontrar maneiras de proteger as oliveiras de infecções que causam grande danos, como ataques pela bactéria Xilella fastidiosa e o fungo Verticillium dhailae. Linhagens da X. fastidiosa atacam vinhedos na Califórnia, laranjais no Brasil, e também são responsáveis por um surto infeccioso em oliveiras na região da Apúlia, sul da Itália.

O genoma da bactéria que causa a praga do amarelinho na laranjeira foi sequenciado por um consórcio de pesquisadores paulistas financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e publicado na revista científica "Nature" em 2000.

Já o genoma da oliveira foi desvendado por pesquisadores de várias instituições, como o Centro para Regulação Genômica (CRG), de Barcelona e o Real Jardim Botânico, de Madri. A pesquisa foi financiada pelo Banco Santander; os resultados foram publicados na revista científica de acesso aberto "GigaScience".

"No que diz respeito a várias doenças das oliveiras, o nosso consórcio não começou a estudar as interações patógeno-hospedeiro, mas esperamos que o acesso ao genoma da oliva acelere essa investigação", diz Tyler Alioto, pesquisador do CRG.

"É uma planta muito difícil para aperfeiçoar, pois é preciso esperar pelo menos doze anos para ver que características morfológicas ela terá, e se é aconselhável fazer cruzamentos", diz o principal autor do artigo, Toni Gabaldón, também do CRG.

Segundo Pablo Vargas, do Jardim Botânico, coordenador do sequenciamento, existem três fases do sequenciamento de um genoma. "Primeiro, é preciso isolar todos os genes, algo que eles já tinham publicado há dois anos. Segundo, montar o genoma, o que significa ordenar esses genes um atrás do outro, como ligar frases soltas de um livro. E por último, identificar todos os genes, ou encadernar o livro. Essas duas últimas fases é que são apresentadas agora.

Foram encontrados 56.349 genes, bem mais do que em sequenciamento de plantas semelhantes, e o dobro do número de genes do genoma humano. O número elevado de genes talvez esteja ligado à grande longevidade da árvore, que pode viver entre 3.000 a 4.000 anos.

"Mais genes equivale a mais matéria prima para evolução. Apesar de nós não sabermos exatamente, podemos especular que alguns dos genes extras estão envolvidos nas adaptações específicas de oliveiras. Nós, e eu tenho certeza que muitos outros, vamos estudar isso no futuro", conclui o pesquisador.

O genoma vai ajudar no entendimento da história evolutiva da oliveira –pode eluciar, por exemplo como as diferentes variedades de oliveiras se adaptam a variadas condições ambientais. A convivência do homem com a planta na bacia do Mediterrâneo vem desde a Idade do Bronze, o que explica por que existem mais de mil variedades de oliveiras na região.

Com seus 1.200 anos de idade, o espécime sequenciado é o organismo vivo mais antigo do qual se extraiu o genoma. E ela promete viver pelo menos outros 1.200 anos mais.


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