Folha de S. Paulo


Cientistas viram youtubers e falam de dinossauros a robótica em vídeos

Como os dinossauros faziam xixi? Robôs com inteligência artificial podem vir a dominar o mundo? O que são as ondas gravitacionais descritas por Einstein? Um animado time de cientistas brasileiros tem se dedicado a responder a essas e muitas outras perguntas em vídeos didáticos no YouTube.

Com edição caprichada, linguagem acessível que "traduz" o jargão acadêmico e muitas referências à cultura pop, os canais de conteúdo científico começam a chamar a atenção.

Um dos maiores, o Nerdologia, tem mais de 1,4 milhão de assinantes. "Às vezes nem eu acredito que tem tanta gente interessada assim", brinca o biólogo Atila Iamarino, o rosto e a voz à frente do canal, que está no ar há três anos.

Karime Xavier/Folhapress
Atila Iamarino, biólogo que fez pós-doutorado em Yale, em estúdio de gravação
Atila Iamarino, biólogo que fez pós-doutorado em Yale, em estúdio de gravação

O cientista explica que usa temas atuais, muitas vezes ligados a lançamentos do cinema e dos quadrinhos, para destrinchar conceitos muitas vezes complexos por trás do universo de interesse do público que prestigia o canal.

"Tem muita gente que não percebe que nós estamos explicando um conceito, às vezes complicado, de ciência", diz Atila.

Ligado ao portal "Jovem Nerd", um dos mais famosos desse segmento no país, o Nerdologia tem uma estrutura profissional com direito a edição feita por uma produtora. Uma realidade que ainda passa longe da maioria dos cientistas.

À frente de um canal especializado em robótica e computação, Camila Laranjeiras, 23, cuida sozinha de todas as etapas de gravação, produção e edição do "Peixe Babel", que tem quase 27 mil inscritos.

Alexandre Rezende/Folhapress
Camila Laranjeira, 23, do canal Peixe Babel
Camila Laranjeira, 23, do canal Peixe Babel

"Eu sempre quis dar aula, e eu comecei a gravar os vídeos como uma forma de treinar a didática", conta a jovem, que grava os vídeos em casa, entre seu trabalho no laboratório, a conclusão de um mestrado e o desenvolvimento de um software próprio.

Além de comentar sistemas de informação, inteligência artificial e até a tecnologia por trás dos robôs da franquia "Guerra nas Estrelas", Camila também comenta temais atuais ligados ao universo digital, como a restrição de franquia no uso da internet proposta recentemente pelas operadoras.

Com uma área de abrangência milhões de anos anterior à rede mundial de computadores, o "Colecionadores de Ossos" é a principal referência no universo da paleontologia no Brasil.

Comandado pelo casal Aline Ghilardi, professora da Universidade Federa de Pernambuco, e Tito Aureliano, paleontólogo e autor de ficção científica, o canal é um desdobramento do portal de mesmo nome.

Além de tratar de temas como política científica e o combate ao tráfico de fósseis, o "Colecionadores de Ossos" também faz produções divertidas sobre curiosidades de dinossauros e outros bichos pré-históricos.

Os cientistas-youtubers ressaltam que a audiência que consome esse tipo de vídeo na internet é muito exigente, tanto no conteúdo como na periodicidade da programação.

Vídeo do canal Peixe Babel

"As pessoas reparam nos mínimos detalhes", diz Atila Iamarino, do Nerdologia. "No Youtube a periodicidade também é fundamental. Uma vez, por problemas técnicos com a antiga produtora, nós não conseguimos subir o vídeo no dia e data certos. Levamos dois meses para recuperar a audiência", completa.

Nos comentários dos vídeos, é comum ver desde dúvidas de estudantes até questões complexas de especialistas.

E também não faltam polêmicas. Temas como a teoria da evolução, astrologia e homeopatia costumam provocar discussões acaloradas.

QUALIDADE

Para tentar separar as produções com embasamento científico dos vídeos sem respaldo acadêmico, os cientistas brasileiros lançaram há dois meses a plataforma "Science Vlogs", que funciona como uma espécie de selo de qualidade das produções.

O "Science Vlogs" agrega cerca de 30 canais produzidos essencialmente por pesquisadores e profissionais experientes ligados à divulgação científica.

Vídeo do canal Colecionadores de Ossos

"Ficou muito evidente que o YouTube é um grande buscador. Se eu buscar por um tema científico, o que é que eu vou achar? Um leigo não tem como saber o que e bom o ruim. Há milhões de sites de curiosidades que não têm embasamento.", explica Rafael Bento, biólogo molecular que criou uma empresa para fazer divulgação de conteúdo científico na internet e comanda o Science Vlogs e a plataforma Science Blogs no Brasil.

Bento explica que o selo também ajuda a distribuir o público pelos diferentes canais do grupo. "Os grandes, como o Nerdologia, ajudam a direcionar o público para os canais menores. As pessoas acabam por conhecer outros conteúdos", diz ele.

O desafio dos cientistas, que muitas vezes acumulam a produção dos vídeos ao trabalho acadêmico, é criar um modelo sustentável para viabilizar seus canais.

Neste mês, o "Colecionadores de Ossos" conseguiu arrecadar mais de R$ 3 mil em um projeto de crowdfunding –a famosa "vaquinha virtual– para comprar uma nova câmera e equipamento de áudio para o canal.

Atila Iamarino, que acabou recentemente um pós-doutorado na Universidade Yale, optou por tirar uma espécie de sabático da vida acadêmica para tentar se dedicar apenas à divulgação científica. "Quero ver se eu consigo viver disso."

Vídeo do canal Nerdologia

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Falando de Ciência - Canais de Sucesso

NERDOLOGIA Faz analise científica de temas variados, como história e cultura pop youtube.com/nerdologia

COLECIONADORES DE OSSOS - Trata de paleontologia youtube.com/colecionadoresdeossos

PEIXE BABEL - Seu principal tema é robótica youtube.com/peixebabel

PAPO DE BIOLÓGO - Bichos dominam o canal youtube.com/papodebiologo


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