Folha de S. Paulo


Fósseis chineses iluminam período chave da evolução dos primatas

Cientistas descobrem fósseis de seis animais peludos que habitavam as árvores do sul da China há 34 milhões de anos. A descoberta publicada pela revista 'Science' nesta quinta-feira (5) deve ajudar os pesquisadores a compreenderem melhor um momento chave na evolução dos primatas.

Os fósseis encontrados pertencem a seis espécies de primatas até então desconhecidas. Quatro delas são similares aos lêmures da ilha de Madagascar, uma é semelhante a um társio, espécie de primata que pode ser encontrada na Indonésia e nas Filipinas, e o sexto é mais parecido com um macaco.

Primatas estão entre os mamíferos mais sensíveis às mudanças ambientais. As espécies que acabam de ser descobertas resistiram por pouco tempo depois de uma mudança climática drástica que deixou a região mais fria e seca, provocando a extinção de todos os primatas que viviam na América do Norte e Europa e devastando boa parte da população de primatas da Ásia.

A linhagem de primatas que deu origem aos macacos, hominoideos e seres humanos é chamada de antropoide e se originou na Ásia. Os fósseis mais antigos datam de 45 milhões de anos atrás. Muito mais tarde, há cerca de 38 milhões de anos, alguns antropoides migraram para a África, onde a espécie humana surgiu, há 200 mil anos.

Mas se os antropoides surgiram na Ásia, por que os seres humanos e os macacos não se desenvolveram por lá? Esse grande resfriamento há 34 milhões de anos é uma boa explicação.

"Esse momento foi crítico na história evolutiva dos primatas", explica o paleontólogo Xijun Ni, da Academia Chinesa de Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia Ciências.

Antes de as temperaturas baixarem, os primatas asiáticos eram dominados por antropoides. Depois, as populações de primatas como o lêmure se alastraram à medida que aqueles mais parecidos com macacos eram dizimados. Prova disso é que apenas um dos seis fósseis descobertos na província de Yunnan, na China, era de um antropoide.

A África foi menos afetada pela queda de temperatura, por isso os antropoides conseguiram se desenvolver e se diversificar por lá.

"Se os primeiros antropoides asiáticos não tivessem sido capazes de colonizar a África antes do resfriamento global nós certamente não estaríamos aqui para refletir sobre essas coisas ", disse o paleontólogo da Universidade de Kansas, Chris Beard.

"Por outro lado, se os antropoides asiáticos não tivessem sofrido tamanha perda evolutiva após o arrefecimento, nossos antepassados poderiam ter evoluído na Ásia em vez da África", acrescentou o paleontólogo.

O antropoide solitário encontrado no grupo de fósseis era um pequeno primata parecido com um macaco. O nome da espécie é Bahinia banyueae e ela provavelmente se assemelhava a espécies de macaco de pequeno porte como os saguis que podemos encontrar no Brasil. Os dentes do bicho sugerem que sua dieta seria baseada em frutas e insetos.


Tradução: Juliana Cunha


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