Folha de S. Paulo


Alguns carnívoros são mais espertos que outros na hora de buscar comida

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Hienas são os animais que fizeram a cientista Sarah Benson-Amram pensar sobre como funciona a inteligência dos carnívoros.

Sarah, pesquisadora da Universidade do Wyoming, em Laramie, escreveu uma dissertação sobre hienas selvagens sob a orientação de Kay E. Holekamp, da Universidade Estadual do Michigan.

Editoria de arte/Folhapress

Esses animais possuem estruturas sociais muito complicadas e que exigem inteligência para funcionar em seus clãs, ou grupos. Contudo, as pesquisadoras também testaram os animais para ver se eles tinham um tipo de inteligência muito diferente de compreender quem é o mais forte do grupo: elas distribuíram caixas de metal que os animais tinham que abrir por meio de uma trinca de correr.

Apenas 15% das hienas selvagens resolveram o problema, mas no cativeiro os animais foram bem sucedidos em 80% dos casos.

Sarah e Kay resolveram então testar outros carnívoros, comparando espécies e grupos familiares. Elas e outros pesquisadores deram caixas de metal difíceis de abrir para animais de diversos zoológicos e registraram quantos conseguiam resolver o desafio e comer a carne.

Foram testados 140 animais de 39 espécies que faziam parte de nove famílias. Os resultados estão na edição mais recente da revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences".

TAMANHO DO CÉREBRO

As pesquisadoras compararam os índices de sucesso de diferentes famílias com base no tamanho absoluto do cérebro, o tamanho relativo do cérebro e o tamanho dos grupos sociais que as espécies formam na natureza.

Apenas ter cérebros maiores não fazia diferença, mas o tamanho relativo do cérebro, comparado ao tamanho do corpo, era a melhor indicação de quais animais seriam capazes de resolver o problema e abrir a caixa.

Os ursos foram os melhores, seguidos pela família que inclui guaxinins e quatis, um resultado que qualquer pessoa que já teve a lata de lixo revirada por um guaxinim poderia prever. A família que inclui doninhas e lontras ficou em terceiro lugar.

As pesquisadoras já esperavam esse resultado, mas ficaram surpresas com outra descoberta. Os animais que vivem em grupos sociais complexos não se saíram especialmente bem. Infelizmente, para os fãs dos suricatos, a família Herpestidae, que também inclui os mangustos, foi a que se saiu pior na resolução do quebra-cabeça.

Kay afirmou que o resultado se contrapõe à hipótese do cérebro social, segundo a qual animais que vivem em grupos sociais complexos teriam cérebros mais desenvolvidos e maior capacidade de resolução de problemas.

Mas Robin Dunbar, da Universidade de Oxford, antropólogo e biólogo evolucionário que propôs a hipótese, diz que já se sabia que ela não se aplica aos carnívoros.

Kay afirmou que as descobertas contribuem com mais evidências de que a inteligência não é uma única qualidade, e que tarefas diferentes dependem de diferentes habilidades e diferentes partes do cérebro. Não perder de vista a hierarquia social é uma coisa, ao passo que solucionar problemas físicos é completamente diferente.


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