Folha de S. Paulo


Santos precisa reavivar mangues contra avanço do mar

Cientistas brasileiros, ingleses e americanos querem recuperar regiões de mangue em Santos e espessar faixa de areia da praia, entre outras medidas, para conter o avanço do mar.

Eles estimam que impactos de uma possível inundação trariam prejuízos no valor de R$ 1,2 bilhão, caso não sejam feitas adaptações na cidade para lidar com os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global. Os resultados foram anunciados nesta terça (1º).

Segundo o estudo, até 2050, o nível do mar pode subir 36 cm na região, chegando a 45 cm em 2100. A previsão foi feita com base em informações de geoprocessamento cedidas pela Prefeitura de Santos e histórico de marégrafos e satélites.

"Não podemos montar em um foguete e ir para Júpiter, felizmente, temos soluções viáveis para a realidade de Santos", afirma a pesquisadora Lucí Hidalgo Nunes, subcoordenadora do Projeto Metrópole, pesquisa internacional de busca de soluções locais para consequências advindas de alterações no clima, da qual Santos faz parte.

A ideia é avaliar os impactos do aquecimento global em escala local. No cenário mais amplo, os dados divulgados pelo IPCC, um painel de cientistas mundiais que investiga tais alterações no clima, prevê um aumento global médio do nível do mar entre 28 cm e 89 cm até 2100.

"O que poderia acontecer ao município é catastrófico, mas ainda temos tempo", afirma Lucí.

OBRAS E OBRAS

Para os cientistas, são necessárias medidas que minimizem os "efeitos colaterais", tais como enchentes severas e alagamentos, com consequentes danos na saúde e no turismo de Santos.

Com a participação da sociedade civil, os pesquisadores divulgaram nesta semana que a cidade deve gastar cerca de R$ 238,5 milhões para viabilizar tais propostas e evitar o prejuízo de R$ 1,2 bilhão.

A verba deve ser utilizada em obras de drenagem, elevação de muros de proteção na orla, recuperação do mangue e até o engordamento de praias.

A zona noroeste de Santos, região onde havia mangue, hoje está ocupada por moradias irregulares e é avaliada pelos pesquisadores como a que mais precisa de investimentos. A região é mais baixa do que o nível do mar e já sofre com as enchentes.

"Essa é uma medida particularmente complexa porque envolve recuperar um mangue que não existe mais porque há população morando no local", avalia a pesquisadora Lucí.

Para socorrer a zona noroeste seriam necessários R$ 201,9 milhões para realizar a dragagem e construir comportas e estações de bombeamento, além da recuperar o mangue. O prejuízo pode superar R$ 200 milhões (sem contar os custos de realocação das pessoas que moram no local).

"Precisamos fazer o mesmo tipo de trabalho para Recife, para Natal, e precisamos das informações técnicas, que não são simples. Espero que outras cidades do Brasil sigam esse exemplo para fazer projeções sobre suas realidades locais", conclui Lucí.

A divulgação dos dados aconteceu durante o segundo workshop do Projeto Metrópole. Também no dia 1º, a Prefeitura de Santos publicou no "Diário Oficial" a criação de uma comissão responsável por planejar estratégias de adaptação ao clima para a cidade.

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Editoria de Arte/Folhapress
SANTOS CONTRA O ALAGAMENTO Investimentos de R$ 238,5 mi evitariam prejuízo de R$ 1,2 bi, diz estudo

1 Zona Noroeste
Obras
Dragagem, sistema de comportas e estações de bombeamento e recuperação de mangue
Custo das intervenções
R$ 201,9 milhões
Prejuízo estimado se nada for feito (somente com imóveis/valor venal)
R$ 236,4 milhões

2 Zona Sudeste
Obras
Engordamento/alimentação artificial da praia, muro de proteção e sistema de bombeamento e melhoria?de comporta dos canais
Custo das intervenções
R$ 36,5 milhões
Prejuízo estimado se nada for feito (somente com imóveis/valor venal)
R$ 1 bilhão


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