Folha de S. Paulo


Nobel de química vai para trio que estudou reparo da molécula de DNA

Jonathan Nackstrand/AFP
Membros do Comitê Nobel para a Química anunciam vencedores do prêmio deste ano
Membros do Comitê Nobel para a Química anunciam vencedores do prêmio deste ano

O Prêmio Nobel da Química de 2015 foi concedido ao sueco Tomas Lindahl, ao americano Paul Modrich e ao turco Aziz Sancar por terem mapeado e explicado como a célula repara o DNA que contém e assim preserva sua informação genética. O anúncio foi feito nesta quarta (7) pela Academia Sueca, em Estocolmo.

Toda a informação genética para o desenvolvimento e funcionamento dos seres vivos está contida nas moléculas de DNA, e é formada quando o espermatozoide fecunda o óvulo e forma uma única célula, chamada zigoto.

Durante o desenvolvimento, essa única célula vai se dividir, formando duas novas células. Essas duas células se dividem em quatro; essas quatro se dividem em oito, e assim por diante, até chegarmos nos trilhões de células que um indivíduo adulto possui. Cada uma com suas próprias moléculas de DNA.

A cada divisão, porém, a informação genética da célula é preservada, ou seja, mesmo muitas bilhões de divisões celulares depois a cópia mais recente do seu material genético é semelhante ao original, formado quando o espermatozoide fecundou o óvulo.

É aí que reside a mágica porque o processo de divisão celular está sujeito a erros aleatórios, assim como todos outros processos químicos. Além disso, nossas moléculas de DNA são diariamente expostas a outras moléculas reativas e à radiação prejudicial, como a radiação UV.

O que o trio premiado fez foi, separadamente, descobrir quais são os mecanismos que a própria célula tem para reparar esses erros.

PROTEÇÃO

Até o fim dos ano 1960 –a estrutura do DNA foi descoberta em 1953– acreditava-se que o DNA fosse uma molécula resistente. Trabalhos de Lindahl, porém, estimaram que o DNA está sujeito a milhares de lesões potencialmente devastadoras, incompatíveis com a existência humana na Terra. E concluiu, então, que deveria haver na célula algum mecanismo de proteção.

Ele descobriu um mecanismo chamado "reparação por excisão de base", no qual enzimas reconhecem algum erro na cópia das bases nitrogenadas –as "letras" A (adenina), G (guanina), C (citosina) e T (timina)– nas moléculas de DNA e removem a base pareada por engano.

O processo, porém, não dava conta de explicar como as células conseguiam proteger seu DNA de ataques externos, como o da radiação UV.

Sancar descobriu o "reparo por excisão de nucleotídeo", mecanismo no qual enzimas identificam e reparam na molécula de DNA algum erro causado por ação da radiação UV ou outras substâncias cancerígenas, como aquelas presentes na fumaça do cigarro.

Indivíduos com defeitos congênitos nesse mecanismo são muito sensíveis à radiação UV e suscetíveis ao câncer de pele por exposição ao Sol. Modrich, por fim, descobriu um mecanismo no qual enzimas detecta erros de cópia do DNA quando ele é replicado na divisão celular. Ele foi batizado de "reparo de pareamentos errados".

Atualmente, sabe-se que um em cada mil erros que ocorrem durante a replicação de DNA humano é corrigido pelo "reparo de pareamentos errados", mas ainda restam dúvidas sobre como a célula consegue identificar qual das duas fitas do DNA é correta e deve servir de modelo.

Defeitos no sistema de reparo de pareamentos errados aumentam o risco de desenvolver câncer de cólon hereditário, por exemplo.

CÂNCER

As células contam com outros mecanismos de reparo além desses. Se eles falham, a informação genética muda rapidamente e o risco de desenvolver câncer aumenta. Essa instabilidade genética faz com que o DNA das células cancerígenas seja muito instável e suscetível a mutações que tornam as células mais resistentes aos tratamentos.

Por outro lado, essas células ainda dependem dos mecanismos de reparação, já que se eles estivessem completamente desligados, seu DNA se tornaria muito danificado e a célula morreria. Esse ponto fraco é a arma que os cientistas dispõem para pesquisar novas drogas contra o câncer.

NOBEL

Os cientistas dividirão um prêmio de 8 milhões de coroas suecas, que equivalem a R$ 3,8 milhões. O dinheiro provém de um fundo deixado pelo patrono do prêmio, Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite. Os prêmios são distribuídos desde 1901.

Na segunda-feira (5), foi concedido o Prêmio Nobel da Medicina ou Fisiologia. O irlandês William Campbell e o japonês Satoshi Omura foram premiados por criarem novas terapias contra verminoses; a chinesa Youyou Tu, por seu trabalho contra a malária.

Nesta terça-feira (6), foi concedido o Prêmio Nobel de Física. O japonês Takaaki Kajita e o canadense Arthur McDonald mostraram que o neutrino tem massa, ao contrário do que se acreditava por muitos anos.

Premio Nobel


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