Folha de S. Paulo


Pesquisadores ligam erupção de vulcão a crise global em 1816

Nasa Earth Observatory
Cratera do Tambora, na Indonésia, que possui 6 km de diâmetro e 1,1 km de profundidade
Cratera do Tambora, na Indonésia, que possui 6 km de diâmetro e 1,1 km de profundidade

Em abril de 1815, a explosão vulcânica mais poderosa já registrada na história abalou o planeta em uma catástrofe tão vasta que ainda hoje cientistas brigam para entender suas repercussões.

Até agora, eles descobriram que a erupção teve um papel no esfriamento do clima, no colapso da agricultura e nas pandemias globais.

Em uma das exuberantes ilhas da atual Indonésia, a erupção do Monte Tambora matou 100 mil pessoas, que foram queimadas vivas, atingidas por pedras ou acabaram morrendo de fome, já que as cinzas pesadas sufocaram as colheitas.

Os cientistas descobriram ainda que uma enorme nuvem de partículas se espalhou pelo globo e bloqueou a luz do sol, causando três anos de esfriamento planetário. Em junho de 1816, a nevasca atingiu Nova York. Em julho e agosto do mesmo ano, geadas assassinas devastaram fazendas na Nova Inglaterra. Chuvas de granizo caíram sobre Londres no verão.

Em "Tambora: The Eruption that Changed the World" ("Tambora: a Erupção que Mudou o Mundo", nos EUA pela Princeton University Press), Gillen Wood mostra que os efeitos globais foram tão extremos que muitos países passaram por ondas de fome, doenças, agitação civil e declínio econômico.

"O ano sem verão", como 1816 ficou conhecido, tornou-se a origem não só de pinturas de céus tempestuosos, mas de ficção gótica: Frankenstein e o vampiro humano.

As repercussões foram globais, mas ninguém percebeu que o caos generalizados teve origem em uma erupção do outro lado do mundo.

Surgiam casos de folclore regional. Os habitantes da Nova Inglaterra chamaram 1816 de "mil oitocentos e congele até a morte". Os alemães diziam que 1817 foi o ano do mendigo.

Esses episódios até então estavam desconhecidos ou sem conexão um com o outro. Foram os cientistas que começaram a montar uma imagem mais clara do episódio.

O autor também fala sobre o frio glacial no sul da China, uma terra de montanhas, florestas, tigres e elefantes. As plantações de arroz morreram, e a fome durou anos.

Clive Oppenheimer, vulcanologista da Universidade de Cambridge, diz que a chance de uma explosão parecida ocorrer nos próximos 50 anos é relativamente baixa –10%. Mas as consequências, afirma, poderiam ser terríveis.


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