Folha de S. Paulo


Animais se camuflam e até aprendem 'idioma' para se dar bem na natureza

Na última semana caiu a máscara do pica-pau-de-cara-canela –que pode ser considerado um campeão de mímica do mundo animal. Ele imita quase com perfeição a postura e possui cores parecidas com a de pica-paus maiores, como seus primos distantes, os pica-paus-reis (Campephilus robustus).

Seguindo o lema "barriga pra dentro e peito pra fora", a pequena ave evita competição com os primões e passa despercebida, podendo usufruir de um ambiente com mais alimento e mais seguro sem ter de partir para a violência (e muito provavelmente se dar mal no processo).

Esse não é o primeiro caso e nem o único de malandragem do mundo animal. Para continuar nos pássaros, outro exemplo bastante curioso é o da chorona-cinza.

O pássaro habita a região amazônica e, como diz o nome, possui cor acinzentada.

Malandragem animal

Espera-se que filhotes de pássaros, recém-saídos dos ovos e ainda frágeis, possuam uma coloração que não seja muito chamativa –para não atrair predadores.

No entanto, mesmo com os pais naturalmente discretos, os filhotes inovaram e adotaram um figurino "Orange is the New Black" com pelugem laranja que imita aquela de uma lagarta-de-fogo. A lagarta se defende com uma substância irritante secretada pelos seus "pelos". O pássaro não. Mas os predadores não precisam saber disso, certo?

POLIGLOTA

O besouro-de-formigueiro Paussus favieri não faz a menor questão de disfarçar: no melhor estilo dos hipnólogos de rua, faz a cabeça de formigas para que elas o hospedem e deem prioridade aos ovos postos por ele, que se torna o novo rei do pedaço.

A manipulação tem requintes de crueldade. Não bastando o besouro mãe aprender o 'idioma' local para dar ordens às novas subordinadas, os besourinhos que nascem sugam as entranhas de larvas de formiga para se desenvolverem (e quem sabe levar esse mesmo terror para novos formigueiros).

Esse fenômeno de passar despercebido em um ambiente é chamado em biologia de mimetismo. No caso do besouro-de-formigueiro, um mimetismo químico faz com que ele não seja atacado por lá.

DEU ZEBRA

Não é sempre que essa história de mimetismo dá certo. No caso da zebra, não faz muito sentido mesmo: onde que um bicho listrado conseguiria se camuflar?

A explicação imaginada pelos cientistas seria a de que, em movimento, as listras conseguissem provocar um truque de óptica, evitando golpes certeiros dos adversários. Mas como nem tudo na vida dá certo, a história não termina assim.

Um novo estudo testou computacionalmente alvos cinza e listrados em preto e branco e, na verdade, os alvos em preto e branco são bem mais fáceis de se acertar.

Pois é. Parece que na moda do reino animal laranja está em alta e listras estão em baixa. Bem que a zebra podia fazer um estágio na amazônia com as choronas-cinza.

Entre as possíveis funções das listras das zebras (ainda)estão: espantar insetos, ajudar a suportar o calor, e facilitar a localização para o bando.


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