Folha de S. Paulo


Besouro "vampiro" mimetiza formigas

Uma colônia de formigas é uma fortaleza: quando ocorre uma invasão, soldados rapidamente a detectam e destroçam os inimigos. Porém, alguns invasores conseguem penetrar o formigueiro sem dificuldade. O caso mais desconcertante é o de besouros conhecidos como paussines (em inglês, ant nest beetles).

Esses besouros conseguem entrar numa colônia de formigas em busca de outro besouro com o qual acasalar sem serem molestados. Eles põem ovos, dos quais nascem larvas. E as formigas operárias alimentam os besourinhos como se fossem formiguinhas.

Quando os besouros chegam à idade adulta, as formigas os cercam, cuidando deles. Então, os besouros mordem as larvas de formiga e as formigas que acabam de passar pela muda para beber seus fluidos corporais. "São como besouros vampiros", comentou Andrea Di Giulio, da Universidade Roma Tre, de Roma.

Ele e outros cientistas descobriram que esses besouros são capazes de realizar imitações espantosas, emulando vários chamados das formigas. Di Giulio e seus colegas estudam uma espécie chamada Paussus favieri, que vive nos montes Atlas, no Marrocos, que infiltra os formigueiros de formigas marroquinas conhecidas como Pheidole pallidula.

Como muitas espécies de formigas, a Pheidole pallidula emite sons quando esfrega as pernas contra arestas presentes em seu corpo.

O significado dos sinais sonoros varia de espécie para espécie: as formigas-cortadeiras os usam para convocar guarda-costas para acompanhá-las na volta ao formigueiro. Em outras espécies, a rainha emite sons para chamar as operárias para atendê-la.

Os cientistas dizem que as formigas Pheidole pallidula emitem três sons distintos. Cada um é próprio de uma casta: as formigas soldados, as operárias e a rainha.

Di Giulio e seus colegas observaram que os besouros Paussus favieri também possuem arestas, o que sugere que também eles seriam capazes de emitir sons. Já besouros aparentados com eles que não invadem formigueiros não possuem esse tipo de anatomia.

Os cientistas posicionaram microfones nos besouros e ficaram ouvindo. Os besouros começaram a cantar. Mas não produziram um único chamado. Eles fizeram três sons, cada um dos quais guardava semelhança estreita com um som feito por uma das castas de formigas. "Ficamos estarrecidos ao encontrar um padrão tão complexo de sinais", comentou Di Giulio.

Ele se perguntou se os besouros estariam imitando as formigas para enganá-las. Ele e seus colegas instalaram um alto-falante em miniatura em uma câmara e o enterraram na areia. Depois colocaram formigas na câmara e tocaram chamados de besouros no alto-falante.

As formigas não reagiram atacando. Em vez disso, foram em direção ao som para investigar, agitando suas antenas da maneira que fazem para detectar outras formigas. Em seguida, disse Di Giulio, "começaram a escavar em direção ao alto-falante, como se quisessem resgatar alguém".


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