Folha de S. Paulo


Relação entre aquecimento global e aumento de doenças ainda não é clara

Mudanças climáticas são uma ameaça à saúde humana?

A lógica poderia sugerir que a resposta é sim: o presidente dos EUA, Barack Obama, usa isso para conseguir apoio para tornar as mudanças climáticas o ponto central de seus últimos meses de governo.

Na lista da Casa Branca, os casos de asma vão piorar, as mortes ligadas ao calor aumentarão e o número de insetos transmissores doenças, antes confinadas aos trópicos, também. Mas esses pontos expressam uma certeza que muitos cientistas dizem ser ainda inexistente.

Climas quentes têm efeito na saúde, mas a temperatura é só parte de um conjunto muito complexo de forças.
Por exemplo, as viagens pelo globo e o comércio –e não mudanças climáticas– trouxeram os primeiros casos de chikungunya para a Flórida.

As temperaturas podem estar subindo, mas a quantidade de mortes pelo calor, não. O progresso ajuda na adaptação –o fato de o ar-condicionado estar mais comum e os tratamentos para doenças do coração, por exemplo.

Como afirma Patrick Kinney, diretor do programa de clima e saúde da Universidade Colúmbia, ainda é difícil estabelecer causalidades.

Um estudo comparando Laredo, no Texas, e uma cidade do outro lado da fronteira do México descobriu que a incidência de dengue era muito maior no México, apesar de os mosquitos que transmitem a doença serem mais abundantes no Texas. No Texas, há ar condicionado e janelas que fecham bem, dizem os pesquisadores.

No Canadá, o número de áreas com carrapatos subiu de duas para treze desde 1997. Ácaros, como os carrapatos, e insetos, como os mosquitos, não podem regular sua temperatura corporal, por isso são muitos sensíveis às temperaturas. Mas o número de carrapatos tem aumentado mais ao sul também, como na Virgínia e na Carolina do Norte, e isso parece ter pouco a ver com o clima.

Ben Beard, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, diz que o reflorestamento e o aumento da população de veados e pessoas podem ser mais preponderantes. "Provavelmente não é o clima."

Mas mesmo falar sobre o calor é complicado. Uma revisão recente da mortalidade por calor nos EUA descobriu que a taxa de mortes relacionadas às altas temperaturas diminuiu para menos da metade dos anos 1987 a 2005.

Em maio, um estudo do "The Lancet" analisou 74 milhões de mortes de 1985 a 2012 em mais de dez países e descobriu que cerca de 8% das mortes foram causadas por temperaturas anormais. Dessas, a taxa de mortes pelo frio (mais de 7%) é muito maior do que a de calor (0,42%).

Riscos para a saúde por causa da mudança climática são fundamentalmente locais. Os perigos do calor são maiores em Nova Deli do que em Nova York, não porque é mais quente na Índia, mas porque menos gente tem eletricidade, casas resistentes e cuidados médicos modernos. O que torna difícil tirar conclusões.


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