Folha de S. Paulo


Nasa se prepara para fazer primeira visita a Plutão

Uma viagem de nove anos aos confins do Sistema Solar deve ter sua conclusão em oito dias –o primeiro encontro de uma espaçonave com Plutão. E não será sem emoção.

A New Horizons, da Nasa, está saudável, mas sofreu uma anomalia no sábado (4) e o computador de bordo entrou em modo de segurança. Para piorar, cada rodada de comunicações entre a sonda e a Terra leva nove horas.

Segundo o Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, que gerencia o projeto para a agência espacial americana, tudo deve estar de volta a seu lugar nos próximos dias para o sobrevoo histórico –momento em que nada pode dar errado.

"Espero que a New Horizons seja lembrada como a missão que abriu a exploração de uma nova fronteira do Sistema Solar", diz o cientista Alan Stern, líder do projeto.

Ele se refere ao cinturão de Kuiper –uma faixa localizada além da órbita de Netuno que abriga centenas de milhares de objetos. A maior parte deles é relativamente pequena e lembra cometas, com a diferença de que eles nunca chegam perto do Sol.

Alguns, contudo, são tão grandes que podem até mesmo ser confundidos com planetas. Foi o que aconteceu com Plutão, descoberto por Clyde Tombaugh, em 1930.

LONGA VIAGEM

Até o lançamento da New Horizons, em janeiro de 2006, Plutão ainda era classificado como o nono planeta. Mas isso só durou até agosto daquele ano, quando a IAU (União Astronômica Internacional) criou a primeira definição oficial do termo "planeta".

Pelos critérios adotados, Plutão acabou rebaixado à categoria de "planeta anão" –uma decisão que até hoje não é livre de controvérsias.

Editoria de Arte/Folhapress
A viagem da sonda New Horizons
A viagem da sonda New Horizons

O mais importante, contudo, é que, seja lá em que categoria o encaixemos, Plutão é um objeto cientificamente fascinante, que a humanidade conhecerá para valer com o sobrevoo da New Horizons.

Com seus 2.300 km de diâmetro, ele não é lá muito grande –o menor dos planetas "oficiais", Mercúrio, tem mais que o dobro do tamanho. Em compensação, são cinco luas orbitando ao seu redor. Pelo menos que se saiba até agora.

Durante a fase de aproximação, os cientistas têm estudado cuidadosamente as imagens enviadas pela sonda em busca de outros objetos.

Não encontraram nada, o que traz consigo uma boa e uma má notícia. A má é que aparentemente não serão descobertas novas luas, ou anéis. A boa é que o caminho planejado originalmente para a sonda está livre.

"Estamos dando um suspiro de alívio coletivo ao saber disso", disse Jim Green, diretor de ciência planetária da Nasa.

A sonda está se aproximando a cerca de 1 milhão de km diários, e passará a apenas 12,5 mil km da superfície do planeta anão no dia 14.

Após o sobrevoo, a sonda mergulhará nas profundezas do cinturão de Kuiper, de saída do Sistema Solar.

Nem que a Nasa quisesse, a New Horizons não teria combustível suficiente para frear e se colocar em órbita. Isso significa que a espaçonave só terá uma chance para fazer suas observações mais próximas. Tudo tem que dar certo.

Durante o sobrevoo, ela estará ocupada executando uma programação veloz e furiosa de coleta de dados, e só depois que o encontro estiver acabado ela entrará em contato com a Terra para transmiti-los.

Neste momento, a New Horizons já está enxergando estranhas formações em sua superfície de Plutão.

O planeta anão tem grandes variações de cor em sua superfície, e o tom geral é avermelhado. O que intriga é uma série de manchas com espaçamento regular que se revelou nas últimas imagens enviadas à Terra. "É um verdadeiro quebra-cabeça –não sabemos o que as manchas são e mal podemos esperar para descobrir", diz Stern.

E esse é apenas um aperitivo. O prato principal virá mesmo na terça-feira da semana que vem.


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