Folha de S. Paulo


Empresa quer criar boneca sexual robótica com inteligência artificial

Um fabricante de bonecas sexuais de luxo está apostando na inteligência artificial e na robótica para incrementar seu negócio.

Em dois anos, ele espera lançar uma versão de seu produto que seja capaz de compreender o que o usuário diz e conversar com ele.

O americano Matt McMullen é o CEO da companhia RealDoll, um negócio instalado em San Marcos, na Califórnia, que ele começou em 1997.

A empresa fabrica bonecas articuladas de silicone em tamanho real para, digamos, brincadeiras de adulto.

Todo mundo já viu aquelas bonecas infláveis toscas, mas isso aqui é outra coisa. A começar pelo preço –as mais baratas custam US$ 6.500 (cerca de R$ 20 mil). McMullen as vê como obras de arte.

A empresa vende entre 300 a 400 por ano suas bonecas já figuraram até mesmo em séries de TV americanas.

"Esse é o próximo passo natural", afirma McMullen à Folha. "Estamos vendo que as pessoas estão interagindo cada vez mais com seus dispositivos e se apegando a eles."

O empresário imagina que no futuro suas bonecas poderão cumprir diversos papéis, indo além do entretenimento adulto.

"Eu imagino que você possa ligar para ela e dizer: 'Estou indo para Londres semana que vem, como está o tempo por lá?', e ela irá acessar a internet e lhe dar a informação", diz. "Será como falar com a Siri [inteligência artificial dos dispositivos da Apple], mas ela terá um corpo e um rosto."

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

McMullen está trabalhando com diversos especialistas em programação e robótica para desenvolver o sistema do que ele chama de RealBotix –uma cabeça robótica adaptada para suas bonecas.

"Um dos desafios é no reconhecimento de voz", diz. "Não queremos que a boneca dê respostas simples e previsíveis, mas que ela perceba o humor do usuário em sua fala e ofereça respostas de acordo."

A empresa por ora está trabalhando num protótipo que é capaz de piscar e abrir e fechar sua boca, em paralelo com os sistemas computacionais da inteligência artificial.

Também há a possibilidade de interagir com a boneca por meio de óculos de realidade artificial.

AINDA UMA BONECA

Embora admita que relatos de diversos compradores de suas RealDolls –já são mais de 8.000 bonecas vendidas– indiquem em muitos casos o desenvolvimento de um apego psicológico a elas, McMullen não teme o efeito adicional da possibilidade de comunicação.

"Nós as desenhamos de forma que fique evidente que se trata de uma boneca. Ela é esteticamente agradável, mas ainda assim claramente não é um ser humano", argumenta.

É uma das formas de contornar o efeito repulsivo que robôs quase humanos –mas imperfeitos em sua simulação– causam em quem interage com eles, algo que já havia sido descrito pelo pesquisador japonês Mashiro Mori nos anos 1970.

McMullen também não está preocupado com possíveis debates éticos em torno do trabalho.

"Estou muito confortável com o que fazemos", diz. "As pessoas acham que a pesquisa de inteligência artificial estão num ponto em que estamos para criar a SkyNet, e surgirão os Exterminadores do Futuro e eles acabarão com o mundo. Ainda estamos muito longe disso."

Isso vale para agora, ou em dois anos, quando a empresa espera iniciar a comercialização da RealBotix –um sistema que eles esperam que seja atualizável, tanto em software como em hardware.

E quanto a daqui a duas ou três décadas? Será que não estaremos a discutir os direitos da bonecas inteligentes? McMullen não aposta nisso, mas a verdade é que, no momento, ninguém tem a resposta.


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