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Baleia-azul percorre 5.200 km e revela a cientistas rotas de migração

Isabela, uma baleia-azul, ajudou os cientistas a traçar a rota de migração de sua espécie no oceano Pacífico, o que era, até então, um mistério da biologia.

Os pesquisadores conseguiram observar a baleia em várias oportunidades. A primeira vez foi nas ilhas Galápagos (Equador), em novembro de 1998. Depois, o mamífero foi observado em 2006 e em 2008 na região do golfo do Corcovado, no sul do Chile (veja no mapa).

As observações não foram realizadas pelos mesmos grupos de pesquisadores. Para consolidar os dados, foi feito um convênio entre instituições do Chile e dos Estados Unidos.

A análise final, que identificou a mesma baleia, Isabela, nas diversas ocasiões, começou a ser feita em 2010, mas o martelo sobre sua identidade nas duas ocasiões só foi batido em 2014.

A pesquisa foi publicada na última semana no periódico científico "Marine Mammal Science".

A conclusão é que Isabela nadou pelo menos 5.200 km entre o Equador e o Chile. Ela mostrou aos cientistas para onde, de fato, as baleias-azuis vão para procurar alimento durante o inverno do hemisfério Sul.

Editoria de Arte/Folhapress

MISTÉRIO

O biólogo marinho venezuelano-colombiano Juan Pablo Torres-Flores, que atualmente é pesquisador na Universidade Federal de São Carlos, é o principal autor do trabalho e diz que, diferentemente do que se sabe a respeito de outras espécies, como a baleia-jubarte ou a baleia-franca, o local de reprodução das baleias-azuis ainda era um mistério.

"Conhecer a rota da baleia Isabela é motivo de comemoração. Agora já se sabe para onde direcionar a busca por outros indivíduos dessa população e os esforços de conservação", diz a bióloga e professora da Unicamp Mariana Nery, que não esteve envolvida na pesquisa e já estudou a baleia-azul.

Isabela recebeu esse nome em homenagem à filha de Torres-Flores e também por ter sido avistada pela primeira vez perto da ilha Isabela, no arquipélago de Galápagos.

As baleias-azuis são os maiores animais que já pisaram ou nadaram na Terra. Podem superar os 30 metros de comprimento e as 180 toneladas de peso –mais que 30 elefantes adultos juntos, ou 2.500 pessoas. Perto das baleias, nem mesmo um tiranossauro impressionaria.

"Estudar cetáceos é um desafio muito grande, porque esses animais são difíceis de serem localizados e passam a maior parte do tempo submersos e fora do nosso alcance visual. Muitas ainda são as perguntas que temos sem respostas", afirma Nery.

Para "caçar" as baleias-azuis, os cientistas disparavam dardos para coletar amostras da pele do bicho. Ao espetar as baleias –Torres-Flores garante que não machuca e que elas nem sentem–, os cientistas obtiveram uma amostra de DNA e puderam analisá-lo. É quase a mesma coisa que ter o registro de uma "impressão digital" molecular.

Outra forma de captura é usar máquinas fotográficas: o padrão de manchas da pele de cada baleia é único. Também é possível identificar e estudar a espécie através do registro acústico do "baleiês" emitido por esses gigantes.

AMEAÇAS

O corpanzil do animal não é sustentado à base de plantinhas. A alimentação das baleias-azuis é principalmente baseada em algumas toneladas do crustáceo krill. Existem estimativas de que há mais quilos de krill do que de gente no planeta.

No entanto, o problema é que o aquecimento global tem ameaçado a quantidade disponível de plataformas de gelo na Antártida, o que interfere negativamente na reprodução do crustáceo.

Dessa forma, as águas geladas antárticas, geralmente bastante produtivas no verão, deixariam de sê-lo. Em regiões tropicais não há alimentos suficientes para suportar um grande número de baleias por todo o ano, explica Torres-Flores.

Outra ameaça para a conservação, que parece coisa do século passado, é a caça de baleias, afirma o cientista. Alguns países, como a Noruega não fazem parte de acordos internacionais e podem caçá-las em águas próprias.

O óleo de baleia já foi usado como base para sabão, margarina e como combustível para lamparinas . Hoje, a carne da baleia, vista como iguaria, é que é cobiçada. Também existem comunidades aborígenes que caçam a baleia para consumo tanto da carne quanto do óleo.

Editoria de Arte/Folhapress

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