Folha de S. Paulo


Bandos de babuínos tomam decisões democraticamente

Por trás da fama de brutamontes dos babuínos se esconde uma sociedade de primatas que toma ao menos algumas de suas decisões de forma democrática. Uma equipe internacional de pesquisadores mostrou que os bichos decidem seus movimentos com base numa regra simples: siga a maioria.

Flickr/Tambako The Jaguar
O babuíno-gelada vive na Etiópia e pode ser encontrado em grupos com centenas de indivíduos
O babuíno-gelada vive na Etiópia e pode ser encontrado em grupos com centenas de indivíduos

O estudo, publicado na edição desta sexta (19) da revista especializada "Science", foi capitaneado por Ariana Strandburg-Peshkin, da Universidade de Princeton (EUA). Para tentar entender como os macacos decidiam para que lado ir em suas andanças em busca de comida e água, a pesquisadora e seus colegas confeccionaram colares equipados com GPS e colocaram os aparelhos em 25 membros de um grupo de babuínos selvagens da espécie Papio anubis, que vivem no Centro de Pesquisa Mpala, no Quênia.

Os grupos da espécie, à primeira vista, não parecem um modelo de democracia. Com seus caninos enormes, que mais parecem peixeiras, e seus músculos avantajados, os machos não raro tiranizam as fêmeas e travam combates épicos entre si para definir a estrita hierarquia do bando.

Entretanto, o retrato do comportamento dos bichos traçado com a ajuda dos colares-GPS é bem diferente desse estereótipo. Segundo a segundo, os aparelhos foram medindo os movimentos dos animais com base em que indivíduos eram os "iniciadores" e quais eram os "seguidores" - ou seja, quando determinado bicho começava a se deslocar, alguém vinha atrás? Depois, essas interações foram reunidas num retrato geral dos deslocamentos do bando.

O resultado é que a probabilidade de certos movimentos arrastarem consigo um grande número de seguidores não tem nada a ver com o sexo, a idade ou a posição de cada babuíno na hierarquia do grupo. O fator mais importante é a concordância entre diversos "iniciadores" - ou seja, quanto mais babuínos indo mais ou menos para o mesmo lado, maior a chance de outros macacos seguirem a onda.

E quando não há essa concordância? Os seguidores tendem a esperar até que surja um consenso ou, se os "iniciadores" estão indo para direções muito diferentes, às vezes os membros do grupo se dividem entre mais de um "iniciador". Por outro lado, quando as direções não são exatamente iguais, mas se aproximam, os macacos tendem a adotar um caminho consensual entre uma direção e outra.

As conclusões do trabalho se encaixam com uma série de outros estudos recentes, os quais indicam que decisões por consenso são mais comuns do que se imagina na natureza - até bactérias adotam estratégias desse tipo.


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