Folha de S. Paulo


Como ganhar um Nobel: veja dicas de quatro cientistas premiados

Um deles já foi jogador de futebol, tem diploma em esporte e buscou inspiração na corrida para alcançar sua maior meta. O outro cita a liberdade acadêmica como grande propulsor. O resto da turma diz contar com a sorte.

Com trajetórias e áreas de estudo diferentes, os quatro têm um feito em comum no currículo: nada menos que um Prêmio Nobel.

Três físicos e um biofísico que receberam a láurea e estiveram no Brasil para o Encontro Nacional de Física da Matéria Condensada, em Foz do Iguaçu (PR), contaram como chegaram ao topo da carreira –e, de quebra, ofereceram conselhos aos jovens cientistas que almejam chegar tão longe.

O biofísico e químico Kurt Wüthrich, Nobel de química em 2002 –aquele com histórico no esporte, que também foi instrutor de ski e de natação–, conta que observar o diferente despenho dos atletas em uma prova de 1.500 metros serviu- lhe de inspiração.

"Algumas pessoas correm mais rápido que outras. Pensando nisso, tive um monte de ideias importantes para a minha pesquisa", afirmou à Folha.

Mas há diferenças, é claro, no treinamento para receber o prêmio máximo nas duas áreas. "No salto em altura, por exemplo, você pode treinar para atingir uma meta –digamos 2,3 m. Já na ciência você não sabe onde essa meta fica. Por isso, não dá para fazer uma corrida para ganhar o Prêmio Nobel."

O biofísico tem laços com o Brasil: desenvolve projetos na UFRJ em parceria com o seu ex-aluno de pós-doutorado e hoje professor Marcius Almeida. Os dois têm projetos na área de inflamação e na síntese de proteínas.

Para Alan Heeger, físico americano que ganhou o prêmio em 2002 pela pesquisa com polímeros condutores, quem quer ser bem-sucedido como ele deve buscar ser criativo, mas também contar com a sorte em todas as etapas.

"Tenham coragem de buscar o novo. Lembrem-se de que criatividade e descoberta implicam risco. Essa é a verdadeira emoção de uma vida dedicada à ciência."

Serge Haroche, laureado em 2012 pela pesquisa em óptica quântica, diz que não teria conquistado o prêmio se não estivesse sempre rodeado de grandes físicos. "Jean-Michel Raymond e Michel Brune, com quem trabalhei por muitos anos, merecem o prêmio tanto quanto eu."

DIVISÃO

Cada Prêmio Nobel pode ser repartido por até três pessoas. Haroche dividiu o seu com o físico americano David Wineland e também cita a sorte entre os fatores que o elevaram a esse patamar.

"Dentre tantas áreas e descobertas, você tem que ter a sorte de a sua área ser a contemplada. Depois ainda tem que ter a sorte de estar entre os líderes de grupos daquela área e ser o escolhido." Diz que a sorte está ao seu lado, mas faz uma ressalva: "É claro que não houve sorte no Nobel de Einstein", brinca.

Já o alemão Klaus Von Klitzing, que ganhou o prêmio sozinho em 1985 e é diretor do Instituto Max Planck de Pesquisa do Estado Sólido, afirma que o ingrediente principal da receita é liberdade acadêmica.

"Tive sorte de o governo alemão ter criado um financiamento especial para manter pesquisadores talentosos na ciência. Recebia meu salário e tinha a liberdade de frequentar os melhores centros de pesquisa para continuar minha carreira científica."

Os laureados também comentaram o desenvolvimento científico no Brasil em suas respectivas área. "Estou impressionado com o desenvolvimento da óptica quântica. O progresso desde a primeira vez que vim ao país, em 1983, é impressionante", diz Serge Haroche.

"No entanto, outros países, especialmente orientais, são mais dinâmicos e estão investindo muito mais em ciência e tecnologia que o Brasil", afirma Von Klitzing.

O Prêmio Nobel é distribuído desde 1901 para cientistas, estudiosos e personalidades de seis áreas: física, química, economia, fisiologia ou medicina, literatura e paz. O valor distribuído em dinheiro equivale a aproximadamente R$ 3 milhões.


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