Folha de S. Paulo


Curso de astronomia da USP para a terceira idade atrai curiosos

Alunos atentos, fazendo perguntas, tomando notas e até cochilando. A cena poderia descrever qualquer aula para adolescentes, mas, nesse caso, é do curso de astronomia para a terceira idade, no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

São dez aulas ao todo, que acontecem duas vezes por semana, e são voltadas para o público a partir dos 50 anos.

O curso, anual, começa em fevereiro e conta com cem alunos –capacidade máxima do auditório –, que devem se inscrever pelo site do IAG.

"Já dei aula para a graduação, mas ensinar a esse grupo é bem diferente. Tenho a sensação de que os alunos da graduação são bem menos participativos porque sabem que têm tempo de sobra para aprender. Aqui não", diz Roberto Costa, professor do IAG e coordenador do curso.

Eles aproveitam todos os momentos para tirar dúvidas. Seja durante o intervalo ou depois da aula, os alunos vão até o professor para conversar sobre o tema da palestra.

Mas a conversa esquenta mesmo quando o professor abre alguma brecha para a discussão sobre a possibilidade de vida extraterrestre.

Os alunos inundam o professor de perguntas sobre a viabilidade de os humanos visitarem planetas fora do Sistema Solar e de eles abrigarem vida. A resposta? Sim, eles podem abrigar vida, mas não necessariamente inteligente, e as viagens são inviáveis por ora.

PERFIL

A sala é composta por pessoas que têm alguma formação na área –um dos alunos fabrica espelhos para telescópios– e até por gente que quer fugir do alzheimer.
A maioria, porém, está ali por mera curiosidade.

É o caso do engenheiro elétrico aposentado João Monetti, 59. Assíduo dos cursos de astronomia, diz que gosta de estar na USP em contato com os colegas. "No curso on-line às vezes tem até mais conteúdo, mas ali sou só eu e o computador", disse.

Não é preciso ter conhecimento prévio como João. Um dos objetivos do curso é apresentar uma visão geral da astronomia, a partir dos principais assuntos na área: a Terra, o Sistema Solar, as galáxias, a era dos grandes telescópios.

O curso também inclui observação noturna do céu com os telescópios do IAG –na semana em que a reportagem acompanhou as aulas, porém, a atividade foi cancelada por causa do céu nublado, para a frustração dos alunos.

Os veteranos dos cursos livres, que querem aproveitar o tempo ocioso pós-aposentadoria, são outro.

"Quando me aposentei, me propus a fazer pelo menos um curso por ano", conta Vera Pontieri, 71, que já fez cursos sobre turismo e no Museu de Arqueologia e Etmologia, ambos da USP. Sua área de trabalho não tinha nada a ver com os temas: fisiologia cardiovascular.

Mario Granato, 89, ganha dela no quesito cadeira cativa dos cursos. Já frequentou mais de 20, todos voltados para a terceira idade, sobre os mais variados temas, como cinema, música, filosofia.

Os espaços servem também para a socialização. Foi em um desses cursos que ele fez amizade com o argentino Claudio Votta, 73. É nos intervalos que eles combinam os passeios e as matrículas para os próximos cursos.


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