Folha de S. Paulo


Cachorros diferenciam expressões humanas de alegria e de raiva

Experimentos realizados na Áustria indicam que os cães são capazes de distinguir expressões de alegria das de raiva num rosto humano. O feito talvez não surpreenda quem tem cachorro em casa, mas é, na verdade, um marco -trata-se da primeira vez que se demonstra que um animal é capaz de entender expressões emocionais de membros de outra espécie.

O trabalho foi descrito em estudo na revista "Current Biology", coordenado por Corsin Müller, da Universidade de Medicina Veterinária de Viena. "Ainda não sabemos qual é a base dessa capacidade", disse Müller à Folha.

Editoria de arte/Folhapress

"Parece provável que a experiência individual de cada cão no contato com humanos tenha um papel importante, mas também pode haver um componente inato como consequência, por exemplo, da seleção durante o processo de domesticação."

Trocando em miúdos: conforme ancestrais dos cachorros atuais foram sendo domesticados, é possível que humanos do passado favorecessem a criação dos bichos com mais traquejo na hora de "ler" emoções dos donos.

Para testar a hipótese de que os cães sabem a diferença entre um rosto feliz e uma cara irritada, os cientistas vienenses bolaram um sério candidato a experimento mais fofo da história da ciência do comportamento animal.

FOCINHO NA TELA

Os 18 cachorros "participantes", divididos em dois grupos, eram colocados diante de uma tela sensível ao toque exibia uma série de fotografias de faces humanas. O pulo-do-gato (ou do cão), porém, foi colocar apenas metade dos rostos na imagem -as partes de cima ou de baixo, da esquerda e da direita.

Isso porque os cientistas queriam ter certeza de que os voluntários caninos estavam de fato observando a expressão facial como um todo, e não detalhes simples que talvez fossem irrelevantes para detectar a emoção expressa na foto -do tipo "se ele está mostrando os dentes, é porque está sorrindo".

Metade dos cães foi treinada para identificar caras de alegria, enquanto os demais tinham de detectar as de raiva. Os cães, então, deviam tocar a tela (com o focinho, por exemplo). Se acertassem a emoção que devia ser detectada por seu grupo, ganhavam automaticamente um biscoito canino. A tarefa foi ficando mais difícil -depois de sessões de treino, eles tinham de apontar a mesma emoção em fotografias de pessoas diferentes, ou em partes diferentes do rosto.

Curiosamente, os cachorros demoraram mais para aprender a detectar a expressão de raiva, o que talvez indique que eles já tinham uma aversão natural a ela, portanto, já sabiam do que se tratava aquilo de alguma forma. No final, ao longo de 200 tentativas por cão, o índice de acerto ficou em torno de 80%.

"É provável que pelo menos alguns cães também sejam capazes de discriminar entre posturas corporais ou tons de voz, embora haja escassas evidências sólidas a esse respeito", afirma Müller.


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