Há 2,8 milhões de anos, os primeiros membros do gênero Homo, ao qual pertencem todas as pessoas vivas hoje, já caminhavam pela savana no território da atual Etiópia, afirma um novo estudo.
A conclusão vem da análise de uma mandíbula descoberta por cientistas americanos e etíopes, cujas características parecem estar no meio do caminho entre as dos australopitecos, homens-macacos mais primitivos que povoavam a África até então, e as do gênero humano propriamente dito, cujas espécies mais conhecidas só surgem 2 milhões de anos atrás.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress | ||
A transição evolutiva que levou à origem do nosso gênero pode ter sido relativamente rápida, afirmou em entrevista coletiva por telefone um dos autores do estudo, o paleoantropólogo Brian Villmoare, da Universidade de Nevada em Las Vegas.
Ocorre que o provável ancestral dos primeiros Homo, o Australopithecus afarensis (espécie à qual pertencia a fêmea conhecida como Lucy) ainda andava pela Etiópia há 3 milhões de anos. O fóssil recém-descoberto é "apenas" 200 mil anos mais jovem, ou seja, um piscar de olhos do ponto de vista geológico.
Além de descrever a mandíbula em artigo na revista "Science", os cientistas também traçaram um retrato detalhado do ambiente em que viviam os primeiros Homo.
O cenário era composto por grandes áreas de vegetação aberta e relativamente árido.
Esses dados podem explicar a origem do gênero humano, porque os australopitecos parecem ter preferido áreas de vegetação mais fechada. Os Homo seriam resultado da adaptação a ambientes abertos. A hipótese, porém, precisa ser mais estudada.
MENOS DENTUÇO
O hominídeo encontrado no sítio etíope de Lee Adoyta tinha uma mandíbula cujo formato lembra mais um V (como a de primatas mais antigos) do que um U (como a dos demais Homo). Por outro lado, os dentes eram consideravelmente menores.
"O que podemos afirmar é que parece haver um relaxamento da seleção em favor de dentes grandes que tinha predominado até então, o que indica que a linhagem do gênero Homo não estava mais consumindo alimentos de origem vegetal tão duros", disse Villmoare à Folha.
O grande desafio agora será entender melhor o cipoal de linhagens de hominídeos que parece brotar do solo da África Oriental em torno de 2 milhões de anos atrás.
Mais ou menos na mesma época, três espécies do nosso gênero surgem no cenário: o Homo habilis, o H. rudolfensis (ambos de pequeno porte e aparentemente mais primitivos) e o H. erectus (que podia ser tão alto quanto um humano moderno, embora tivesse cérebro um terço menor).
Como as três criaturas não surgiram do nada, a questão era saber quais eram seus ancestrais. Numa pesquisa na edição desta quinta-feira da revista "Nature", a equipe liderada por Fred Spoor, do University College de Londres, deu um passo nesse sentido ao fazer uma reconstrução digital da mandíbula do H. habilis, que está amassada e é difícil de analisar.
Segundo Spoor, a mandíbula lembra bastante a encontrada na Etiópia, sugerindo que o H. habilis, e provavelmente as outras linhagens, têm uma história mais antiga do que se imaginava.