Folha de S. Paulo


Mosquito da dengue geneticamente modificado será solto em Piracicaba

Alexandre Carvalho/Oxitec/Divulgação
Karla Tepedino, supervisora da Oxitec, coloca a mão dentro de uma gaiola de mosquitos machos, que não picam
Karla Tepedino, supervisora da Oxitec, coloca a mão na gaiola de mosquitos machos, que não picam

O município de Piracicaba deve receber antes do final de abril os primeiros mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados criados para combater a dengue soltos no Estado de São Paulo.

Editoria de Arte/Folhapress
ARMA GENÉTICAEntenda como é feito o Aedes aegypti modificado

A prefeitura anunciou nesta segunda-feira (2) um convênio com a empresa britânica Oxitec, fabricante do inseto, para realizar um projeto de pesquisa na cidade.

Após testes em Juazeiro e Jacobina, na Bahia, a empresa obteve aprovação federal de biossegurança para soltar os animais. O aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para comercializar o serviço, porém, ainda não saiu. Por isso o projeto em Piracicaba ocorre como teste, subsidiado pela empresa.

Técnicos da Oxitec e agentes de saúde de Piracicaba já começaram a fazer visitações de porta em porta para informar os moradores do bairro do Cecap, área da cidade com maior concentração de casos de dengue, que os mosquitos da empresa serão soltos lá. Piracicaba teve 88 casos da doença registrados neste ano, comparados com apenas 26 no mesmo período de 2014.

"Não esperávamos esses números agora, justamente num período de crise hídrica", afirma o prefeito Gabriel Ferrato (PSDB), para quem a cidade não está ruim diante dos municípios vizinhos.

"Gastamos de R$ 6 milhões a R$ 7 milhões aqui só nos trabalhos para controlar a disseminação do mosquito, sem contar o custo do tratamento dos pacientes. Mas, como homens públicos, temos a obrigação de testar alternativas."

MILHÕES DE INSETOS

Para tentar eliminar a maior parte da população do A. aegypti no Cecap, onde vivem cerca de 5.000 pessoas, a Oxitec deve soltar entre 20 milhões e 40 milhões de mosquitos ao longo de dez meses.

Os insetos geneticamente modificados, fabricados pela Oxitec em sua unidade de Campinas, são todos machos, portanto não picam. A ideia de soltá-los no ambiente é que eles são estéreis, mas mesmo assim buscam fêmeas selvagens para fecundá-las.

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
A bióloga Karla Tepedino segura recipiente cheio de mosquitos na Oxitec
A bióloga Karla Tepedino segura recipiente cheio de mosquitos modificados na empresa Oxitec

Ao monopolizar o ciclo reprodutivo da fêmea para a produção de um ovo inviável e impedir a fecundação por um macho saudável, o número de insetos começa a cair de uma geração para outra. Nos testes na Bahia, as populações do A. aegypti se reduziram em mais de 90%.

"DO BEM"

Para o projeto em Piracicaba, a Oxitec rebatizou seus mosquitos como "Aedes aegypti do bem". Para o trabalho de conscientização dos moradores, foi montado um stand de informação na frente de um supermercado situado na entrada do bairro.

No local, técnicos da empresa mantêm uma gaiola de tela cheia de mosquitos geneticamente modificados e convidam os pedestres a conhecerem o projeto. Quem quiser pode enfiar a mão na gaiola –uma forma de os técnicos demonstrarem que os mosquitos não picam.

A Oxitec teve que enfrentar um núcleo de rejeição à soltura do mosquito em Key Haven, na Flórida, onde um teste aguarda autorização, e busca evitar que o episódio se repita. Segundo Glenn Slade, diretor da empresa no Brasil, mesmo na Flórida 80% dos moradores da cidade alvo são favoráveis ao projeto, onde também foi realizado trabalho de engajamento público.


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