Folha de S. Paulo


Veja o que o filme "De Volta para o Futuro" acertou e errou para 2015

"Alguma coisa interferiu com o fluxo dos eventos no espaço-tempo, Marty!", exclamaria o doutor Emmett Brown. Afinal, o ano de 2015 chegou e não saiu exatamente como o vimos na trilogia cinematográfica de viagens no tempo "De Volta Para o Futuro", produzida entre 1985 e 1990. Mas foi por pouco.

Como em todas as visões futurísticas criadas pela ficção científica desde Júlio Verne, fica claro que fazer previsões é uma arte difícil, e os acertos são encontrados mais nas entrelinhas. E, claro, sempre haverá as empresas que tentarão pegar carona da popularidade dos filmes de Michael J. Fox (Marty McFly) e Christopher Lloyd (Emmett Brown).

A Nike, que pagou para ter sua marca exibida no filme, agora anuncia que os tênis futuristas que apertam os cadarços sozinhos exibidos em tela chegarão às lojas em 2015.

Quer dizer que o filme acertou nisso? Não, só que a Nike sabe capitalizar em cima do filme. Essa e outras peças "inteligentes" de roupa ainda não são uma realidade do cotidiano. Um truque similar foi aplicado pela Hendo, da Califórnia. Inspirada pelo filme, ela criou sua versão dos "hoverboards", skates sem rodinhas capazes de flutuar no ar.

No filme, Marty McFly usa o dispositivo para escapar de seus algozes de 2015. Enquanto no filme toda criança brinca com seu hoverboard, os aparelhos reais da Hendo custam US$ 10 mil, funcionam por apenas 15 minutos e só flutuam sobre superfícies metálicas. E, francamente, os próprios skates são hoje muito menos populares do que eram na década de 80.

Editoria de Arte/Folhapress

ONDE ELE ACERTOU

Ainda assim, "De Volta Para o Futuro 2", o segmento focado em 2015 (o primeiro se concentrou em 1985 e o terceiro, em 1885) enxergou muito do que a humanidade experimentaria em seu cotidiano três décadas depois.

Um dos grandes lampejos foi perceber que nos tornaríamos consumidores ainda mais vorazes de informação. Em tom de piada, vemos Marty McFly Jr. (o prototípico adolescente desse futuro fictício) escolhendo diversos canais de TV para ver ao mesmo tempo.

É bem verdade que o próprio conceito de "canal de TV" já está se tornando anacrônico, mas o comportamento é idêntico ao de jovens que abrem diversas janelas de um navegador na internet, para consumir conteúdo de vários sites diferentes.

Outro acerto foi a aposta no 3D. Marty é confrontado com a popularização dos filmes tridimensionais, diante de um assustador holograma-trailer do filme "Tubarão 19". (Embutida aí também está a previsão de que sequências cinematográficas se tornariam a regra, em vez da exceção, na indústria.)

ONDE ELE ERROU

Ainda não temos carros voadores. A revolução automobilística mais palpável no horizonte é o advento dos veículos que dirigem sozinhos. Mas estamos longe de transferir as rodovias para o ar.

"De Volta Para o Futuro 2" também se mostra excessivamente otimista sobre transformações da matriz energética humana. Enquanto ainda nos debatemos com o uso do petróleo e o impacto que isso tem na transformação climática do planeta, o doutor Brown instalou em seu carro-máquina do tempo um dispositivo chamado "Mr. Fusion".

A ideia é que, por meio de poderosas reações de fusão nuclear –as mesmas que operam no interior das estrelas– seria possível abastecer o carro com literalmente qualquer porcaria, de restos de cerveja a cascas de banana.

Enquanto isso, no mundo real de 2015, ainda não conseguimos produzir energia com fusão nuclear nem na escala do laboratório. Que dirá num dispositivo portátil para automóveis...

E, claro, o "erro" talvez mais evidente seja o de que não temos nem a mais vaga ideia de como construir uma máquina do tempo. Muito provavelmente, trata-se de uma ideia impossível.

Mas, no filme, ela se presta a uma mensagem bastante verdadeira: embora as tecnologias mudem ao nosso redor, o ser humano, em sua essência e seja qual for a época, permanece essencialmente o mesmo.


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